segunda-feira, 2 de março de 2015

Carta Aberta ao “Estadão”

Sim, assim como muitos, eu tive acesso ao editorial do tradicional "jornalão" paulistano, publicado na edição de 23 de fevereiro e confesso que o texto me incomodou, mas não me surpreendeu. Sou jornalista, daqueles que dedicaram quatro anos aos estudos acadêmicos, para alcançar o diploma e poder exercer de maneira séria, a profissão, que já fora de meus avôs e de um dos meus bisavôs.

Não vou aqui, entrar no discurso falho de que o Estadão componha o tal do “Partido da Imprensa Golpista (PIG)”, até por que mesmo entendendo o mesmo, como parte da imprensa hegemônica e discordando da maioria das posições expressas por ele e por seus pares, não consigo enxergar consistência neste papo de PIG. Sim, eu discordo das opiniões do jornal e também do seu modus operandi, mas eu respeito o jornal dos Frias.

Lembro que no período de estudante, passei a utilizar o tradicional Manual de Redação e Estilo do referido jornal, que, aliás, comprei-o em um sebo, pois não havia mais edições dele nas livrarias e eu ainda o utilizo, mesmo depois de tantos anos de formado.

Mas tenho que discordar do posicionamento do “Estadão”, sobre o tema abordado no editorial do último dia 23 de fevereiro. É antes de ser jornalista, eu já era católico e PJoteiro, atualmente, devido a idade, atuo apenas como colaborador da PJ, na questão da comunicação, através do “Teias da Comunicação”. E por toda a minha caminhada na igreja e na PJ, não tenho condições de não questionar o jornal em vários pontos por ele apresentado.

Assim como toda e qualquer entidade, a Pastoral da Juventude tem sim o direito e mais ainda o dever de se posicionar politicamente e esse direito não deve de forma alguma ser censurado. Além de se manifestar favorável a reeleição de Dilma, no ano passado, a PJ, só que agora a do Regional Sul 2 – Paraná – se manifestou favorável aos professores e demais funcionários públicos daquele estado, em contraposição ao governo local. Isso é válido e necessário.

Quanto à crítica de que o texto da PJ afirma: "o projeto político vencedor representava de forma mais clara a linha de avanços nos campos sociais e na garantia dos direitos, e o projeto popular em curso na América Latina". Sim isso é verdade, basta lembrar que dos principais candidatos à Presidência, a única que sempre se mostrou favorável a integração do continente foi a candidatura do PT.

Mostrando a pluralidade do projeto popular vivido pela América Latina nos últimos anos, temos o Uruguai, transformado pela Frente Ampla de Tabaré Vazques e José “Pepe” Mujica, que inclusive repassou a faixa presidencial ao primeiro no último domingo, 1 de março.

Mesmo que a PJ seja, vinculada a CNBB e ela é, essa liberdade de escolha política é algo que deve sim ser preservado. Basta lembrar que outros setores da mesma igreja, têm posições contrárias as da Pastoral da Juventude e não são criticadas por isso, nem internamente e nem externamente.

Quanto a citação referente ao Concílio Vaticano II, é necessário lembrar que o mesmo reforça na Igreja, a opção pelos mais pobres, que é algo inegável em diversos governos latino americanos nos últimos anos. Quanto ao Bolivarianismo, por mais que existam críticas a serem feitas a este modelo – vide Venezuela – é preciso reconhecer seus avanços – vide Bolívia –, onde existe desenvolvimento social e econômico, além de democracia.

Por isso, ao contrário do Estadão, acho que o agora São João Paulo II, não veria problemas nesse posicionamento. Quanto ao desprezo a liberdade que o editorial aponta, acho que seria tema para outros debates, devido sua extensão.

Nós Pjoteiros sempre nos pautamos pela transformação social, motivados por palavras como a da música, O Mesmo Rosto. É nosso o grito que nos faz tremer, defendendo a vida e o modo de ser, são nossos os passos marcados no chão unindo o compasso de um só coração.

Sobre a questão dos avanços dos últimos anos com relação à juventude, eles são gritantes. Seja com a Secretaria Nacional de Juventude, a realização de Conferências de Juventude, aliás, este ano, teremos mais uma, seja com a aprovação do Estatuto da Juventude, ou seja, ainda com o incentivo a criação dos Conselhos de Juventude. Não enxergar isso, a meu ver é uma miopia gritante.

Quanto aos posicionamentos da CNBB, acho estranho que o Estadão tenha omitido a atuação da mesma, ao lado de outras entidades e organizações sociais, na defesa da Reforma Política, que trará importantes avanços ao país. Sobre as críticas feitas pela entidade religiosa, ao comportamento da imprensa, é preciso destacar que todos estão sujeitos a crítica e saber lhe dar com isso faz parte do processo democrático. Tanto CNBB, quanto a Pastoral da Juventude, nunca atuaram baseando-se em princípios ideológicos, mas sim na construção da Sociedade do Bem Viver e na Civilização do Amor, inspirado pelo Evangelho.


Por isso, veio sim em boa hora esse tema que norteia a Campanha da Fraternidade deste ano. É preciso que a Igreja, através de seus membros, se façam cada vez mais presentes e atuantes nas questões sociais e políticas, para a partir daí, construir uma sociedade, mais justa e fraterna.

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