sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quem é o sentinela?

Já faz alguns dias que vem sendo veiculado nas televisões uma propaganda relativa a liberdade de expressão e ao final da mesma, o locutor afirma que "nada pode distrair o sentinela". Esta propaganda nos leva a refletir sobre pontos importantes sobre a comunicação e a liberdade de expressão: Quem é o sentinela? A sociedade civil ou os donos dos veículos? O que é censura?
Estes são pontos importantes para um debate sério sobre o direito a comunicação. Por isso, foi fundamental a realização das Conferências de Comunicação, que começaram nos municípios e culminaram com a Conferência Nacional em Brasília. Foram nelas, que a sociedade civil apresentou diversas propostas para democratizar a comunicação e garantir uma comunicação mais cidadã.
Atualmente, a comunicação no Brasil é controlada por um pequeno grupo de empresários, que ditam o que é transmitido, sem interferência nenhuma e qualquer ação que busque uma participação maior da população é vista como censura por parte do empresariado. A função das idéias propostas pelas conferências é aumentar a participação da população no processo de comunicação. Mas como estas propostas atrapalham os interesses econômicos dos grupos de comunicação.
Com isso, chegamos a um ponto fundamental da comunicação. Os empresários brasileiros confundem a liberdade de imprensa/expressão com a liberdade de empresa. É pratica comum vermos, não apenas aqui no nosso país mas em todo o mundo, a consolidação da famosa frase de Assis Chateubriand: "Quem quer defender suas idéias, que monte o seu jornal. O meu é para defender as minhas".
É comum vermos também a interferência dos anunciantes na linha editorial a ponto de inclusive não permitir que o veículo publique críticas ao anunciante. Isso sim é censura. Os Conselhos propostos pelas conferências, não serão censores, mas sim reguladores que buscarão principalmente aumentar o poder de decisão da população que é, ou deveria ser a parte mais interessada no processo comunicacional.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Carta Aberta à Barack Obama

Em dezembro, dias antes de uma homenagem a Dom Helder Câmara que participei, publiquei aqui uma Carta Aberta direcionada à ele (aqui) e devido aos comentários de amigos resolvi transformar tais cartas em uma sessão mensal do blog. A segunda edição é direcionada ao presidente Obama, exatamente um ano após sua posse.

Pois é Obama, já se vai um ano, desde que o senhor assumiu seu posto na Casa Branca, representando a esperança de grandes mudanças no país que sempre se colocou como o "grande líder" mundial. Sua posse como presidente representava então uma grande vitória das minorias, que sempre foram oprimidas, afinal como era moda, um ano atrás, diziam que você era o primeiro presidente negro daquele país.
Sua campanha mostrou muitas propostas progressistas e humanitárias, que ajudaram e muito a construir uma imagem quase próxima a do Super Homem, você seria o cara certo no lugar certo. Entretanto, o tempo que é o senhor da razão, mostrou que a humanidade estava enganada. Um ano após o início de seu governo, muitas das promessas de campanha, permanecem ainda como promessas. O senhor disse que fecharia a famigerada Prisão da Base de Guantánamo, maior símbolo do desrespeito aos Direitos Humanos de seu antecessor, mas infelizmente ela continua aberta.
Também durante a campanha, você dizia que as guerras no Iraque e no Afeganistão, não se estenderiam por muito tempo e que não mandaria mais soldados para estes lugares. Entretanto, recentemente seu governo mandou centenas de soldados para combater nestes fronts. Pelos seus atos, o presidente dos EUA, é uma caricatura piorada daquele "herói" que se elegeu em 2008. Suas atuações no que diz respeito as políticas internacionais, não se diferenciam em nada das do governo republicano do Bush filho.
Um exemplo claro disso foi a Conferência do Clima na Noruega, onde o senhor como Chefe de Estado do país mais industrializado do mundo e por isso, o maior poluidor, deveria angariar apoio dos grandes líderes mundiais para adoção de medidas que busquem alternativas que combatam o aquecimento global, já eleito o maior vilão do século XXI. Mas infelizmente, este não foi o seu comportamento, muito pelo contrário.
Com um discurso que caberia muito bem a um republicano yanke, você defendeu o direito de poluir, que os EUA e os países endinheirados sempre acharam que tiveram, mas o estranho da tese defendida por você é que nela, apenas os EUA tinham tal direito. Talvez por isso, sua participação em Copenhague, foi sim indigna de nota. Pelo o que vimos nestes 12 meses de presidência, não foram poucos os casos em que suas ações frustraram as esperanças de quem o classificava como a salvação dos EUA.
Muitos dirão em sua defesa que a crise mundial (a maior desde 1929) atrapalhou seus planos e lhe trouxe grandes problemas, mas talvez ai você tenha seu maior destaque positivo, ainda que sua atitude seja contraditória as idéias defendidas pelo Consenso de Washington que sempre defendeu o Estado Mínimo recriminando toda ação governamental que caminhasse no sentido de intervenção estatal na economia.
Fica aqui a torcida para que nos próximos três anos que lhe restam como presidente, seu governo conquiste avanços nas áreas onde falhou em 2009. E espero também que jamais se esqueça da famosa frase do "tio Ben" de Homem Aranha: "Grandes poderes, trazem grandes responsabilidades", portanto senhor Obama, assuma-as.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Adeus companheira Zilda


O terremoto que assolou o Haiti, vitimando milhares de pessoas de várias nacionalidades, provocou a morte também da médica Zilda Arns um dos maiores ícones da luta pro justiça social no Brasil e com reconhecimento em todo o mundo, chegando inclusive a ser indicada ao Nobel da Paz, pelo seu trabalho com a Pastoral da Criança.
Seu trabalho a frente destas articulações colocaram na pauta política, não apenas do Brasil, mas também de vários países do mundo a importância, tanto das crianças, quanto dos idosos e alcançou muitas conquistas para estes setores, tão esquecidos pelo poder público. Parabéns, Zilda seu trabalho é a prova de que a esperança em um mundo melhor não pode cessar.
A morte da idealizadora e coordenadora das Pastorais da Criança e da Pessoa Idosa, é sim uma grande perda para os movimentos sociais, mas assim como disse em nota, seu irmão Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal Arcebispo Emérito de São Paulo "...Não é hora de perder a esperança."
É sim à hora de renovar tanto a esperança, quanto a fé na luta pelas nobres bandeiras que sempre foram defendidas pela nobre companheira. Sua presença nos fará falta, mas principalmente seu exemplo, nos dará forças para continuar nossa caminhada, rumo à estas utopias. Todos nós que ficamos "órfãos" com sua morte, continuaremos a busca por uma sociedade mais justa e igualitária, ou seja, o outro mundo possível e tão sonhado por nós e por Zilda Arns. Sua missão foi cumprida, agora é hora de nós cumprirmos as nossas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A hipocrisia dos reacionários


O recente lançamento do Programa Nacional de Direitos Humanos, por parte do governo federal vem causando muita polêmica e já serviu para tirar a máscara dos setores mais conservadores de nossa sociedade. A primeira reação ao programa, como não poderia deixar de ser veio das Forças Armadas, que criticou a proposta de abertura dos arquivos da ditadura militar e a revisão da Lei da Anistia.

Esta reação, mostrou que os reacionários comandantes militares, não compreenderam o objetivo do programa. É preciso sim abrir estes arquivos por vários motivos e entre os principais estão: o fator histórico, afinal todo país tem o direito de conhecer sua própria história e também o fator legal. É inadmissível que entidades tão respeitadas como o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, aceitem que bandidos infiltrados em seu seio, tenham se aproveitado de seus postos e uniformes, para cometer crimes hediondos, como sequestro, tortura, assassinatos e ocultação de cadáver. Estes senhores devem sim ser punidos.

Quem matou o "suicida" Wladimir Herzog? O que aconteceu com este senhor? Como aceitar que o assassino do companheiro La Marca, não tenha sido punido pelo assassinato e ainda candidatou-se a presidente na reabertura política? Como não punir os responsáveis pela prisão, tortura e morte do jovem Stuart Angel? Quem ainda por cima esconderam seu corpo e nem deram satisfações de seu paradeiro para a mãe do jovem Zuzu Angel? Como aceitar que o Estado cometa tantos crimes e saia impune desta história?

Muitos defensores dos militares dirão que estas vítimas, são também assassinos por causa de crimes como sequestros, assaltos a bancos e assassinatos e que com a Lei da Anistia tanto os civis quanto os militares deixaram de ser punidos pelos seus crimes. Entretanto para estes senhores, lembro que é direito de qualquer povo, sem que isso esteja escrito na lei, se rebelar contra qualquer governo que se torne déspota e opressor e por isso, nomes como Iara Iavelberg, Carlos Lamarca, Frei Tito, Marighela, Stuart Angel e tantos outros que se revoltaram contra o staus quo da época, são sim heróis e não vilões.

O Estado não pode nunca se colocar acima da lei e foi isso que o Estado brasileiro fez entre 1964 e 1985, com a ampla conivência de nossas Forças Armadas que, agora tem a chance de limpar sua história entregando estes criminosos disfarçados de militares para que a justiça puna cada um conforme suas responsabilidades.

Outro grupo reacionário que mostrou forte reação, foram os senhores do campo, responsáveis pelo famoso agronegócio, estes reclamam que o programa acaba por incentivar a insegurança no campo e fortalecer as organizações radicais, em uma forte alusão ao Movimento dos Sem Terra (MST). Entretanto, o que estes hipócritas não falam é que quando lhes interessa eles defendem sim a negociação para a desocupação de terras e um exemplo recente mostrou claramente tal posicionamento.

O fato a que me refiro, é a desocupação das terras da Reserva Raposa Serra do Sol em Roraima, quando mesmo com a demarcação da mesma, os senhores fazendeiros, que produziam arroz na região e que sempre foram invasores, resistiram enquanto puderam, para sair das terras indígenas. Portanto, defender que o MST não tenha tal direito é hipocrisia sim senhor. Isso lembrar casos mais recentes como o da fazenda "da Cutrale" "invadida pelo MST" e que foi formada em terras que eram da União, antes de serem invadidas pela multinacional sócia da Coca-Cola.

É preciso que tais terras, que estão em situação irregular sejam sim expropriadas em utilizadas para fins de reforma agrária, assim como o caso de fazendas com grandes dividas com a União, estados ou municípios e também as terras que pertençam a senhores em dívida com a justiça como é o caso do banqueiro Daniel Dantas e do médico acusado de estupro em São Paulo. Mas infelizmente nestes casos, a hipocrisia e a covardia impedem que senhores como o ministro Stephanes e a senadora Kátia Abreu, ataquem estes criminosos.

Outro setor reacionário que ficou em polvorosa com o programa foi a imprensa. Inconformados com o que eles teimam em classificar como censura, quando na verdade são meios que garantam a sociedade, o controle sobre a programação com punições variadas para quem desrespeitar os direitos humanos através dos meios de comunicação. Alguém precisa lembrar aos membros da imprensa, principalmente aos donos dos veículos, que tal medida não é censura e que levar isso como se fosse, além de hipocrisia é um tiro no pé.

Afinal como explicar que ninguém pode dizer o que publico em meu veículo, sob a ameaça de ser taxado de censor, mas eu posso escolher o que e como publicar neste mesmo veículo, sem ser censor? Para mim, tal atitude é hipocrisia. estes senhores e senhoras vivem a alegar liberdade de imprensa para defender seus interesses, mas na verdade eles travestem a liberdade de empresa, como se fossem a de imprensa.

Estes senhores, além de hipócritas, são covardes, pois se negaram a participar dos debates referentes as conferências municipais, regionais, estaduais e a nacional de comunicação, utilizando seus veículos para criticá-las, quando deveriam ter participado dos debates. Afinal a liberdade e justiça, são fatores fundamentais para qualquer democracia e a democracia só existe quando elas são para todos e com a participação de todos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A questão palestina


Começamos 2010 e ainda sobre a influência de acontecimentos históricos que marcaram a história da humanidade e que aconteceram na região da Palestina, tão marcada por conflitos sangrentos e ilógicos. Por isso, é muito válido trazer a tona o debate sobre a região e o seu futuro. É inegável a relação histórica entre estes dois povos, tão próximos e e ao mesmo tempo tão distante.
A violência existente na região e que é disfarçada nas questões teológicas que diferenciam os dois povos, transformaram a região em um verdadeiro barril de pólvora, que chama a atenção do mundo todo desde antes dos anos 40, quando o Estado de Israel foi criado. É neste ato chancelado pela Organização das Nações Unidas, que se fomenta a forte violência e os problemas referentes a israelenses e palestinos.
O acordo que criou Israel, previa também a criação de um Estado palestino, entretanto, infelizmente, como todos sabem, este não "saiu do papel" e isso acabou por servir de combustível para perpetuar o conflito, uma vez que os palestinos só deixaram as armas, quando a Palestina virar um país reconhecido pela Comunidade Internacional.
Muitos especialistas, afirmam que a solução mais viável para o caso seria realmente a criação do Estado palestino, mas atualmente esta tese ainda sofre muita resistência por vários motivos, entre eles a questão de que muitas cidades da região e que ficariam no território controlado pelo governo palestino, são historicamente importantes também para os judeus. E o caso mais emblemático disso é a cidade de Jerusalém, desejada por palestinos para ser sua capital e cidade da qual Israel não abre mão.
Para este caso, alguns cientistas políticos, já defendem a criação do Estado palestino sem a inclusão de Jerusalém, que também não pertenceria a Israel, transformando-se em uma Cidade-Estado independente, nos moldes do Vaticano e a justificaria se daria através do fato de tal cidade ter importância não apenas para muçulmanos e judeus, mas também para cristãos, afinal nesta cidade Jesus passou um bom tempo de sua vida pregando e evangelizando.
Esta seria uma saída para sanar o problema teológico que envolve a região, aliado com a criação do sonhado Estado palestino e a consequente solução das questões geopolíticas que levariam ao abrandamento da situação desta região. É óbvio que tais soluções não são garantias de paz na região, mas são sim passos firmes ao entendimento entre estes países. A rivalidade entre israelenses e palestinos, continuará a existir mas não servirá de pretextos para tanta violência entre eles.

P.S.:Agradecimentos à Robert Segal, blogueiro responsável pelo http://robertsegal.blogspot.com de onde peguei a imagem que ilustra o post.