terça-feira, 22 de março de 2011

Carta Aberta ao Adriano Imperador

Pois é, demorei a falar do assunto, mas agora é hora de escrever algo sobre a "novela" Adriano Imperador. Onde ele jogará? Depois de se desligar da Roma, ficou claro o seu retorno ao futebol brasileiro e como não poderia deixar de ser, as especulações começaram;  o Imperador voltará para sua casa, ou arriscará  novos areas em outro clube brasileiro? Durante este tempo, as especulações dão como certa a contratação do jogador pelo Flamengo, ou  pelo Corinthians, ambas diretorias negam qualquer acordo e esperam um posicionamento claro do jogador, que até agora não se pronunciou sobre o caso.
O Flamengo fala agora que no momento não há interesse no atleta e isso é lógico, afinal o mesmo não tem condições de jogo, pois só poderá ser inscrito no início do Brasileirão e sua contratação  agora  não é prioridade pois, com o Flamengo na final do estadual, a prioridade é a conquista do título. Já o Corinthians, também vem dando declarações de que não há  interesse no jogador, mas este não interesse ainda não é confirmado. 
O último entrave para a  negociação Timão, Imperador acontece por que o jogador inssite em declarar seu amor e sua vontade de retornar ao Rubro Negro e como, já tem o histórico de confusão entre Corinthians e Flamengo por causa do Ronaldo Fenômeno, fica complicado o time paulista insistir nesta história.
Acho que seria melhor para o Adriano que voltasse para a Gávea, afinal o cara é do Rio, gosta de lá, é cria do Flamengo e ídolo  rubro-negro, como ele tem como  objetivo recuperar sua boa fase, acredito que o melhor caminho seria rumar para o Rio de Janeiro.

sábado, 19 de março de 2011

Torcidas

Texto extraído do blog do Rica Perrone, que expressa fielmente minha opinião sobre  uma das mais famosas polêmicas do futebol.

Essa discussão é comum, até chata. Quem tem mais torcida? Pra que serve a torcida? Torcida ganha jogo? A sua vai mais no jogo que  a minha! Entre outras frases cansativas…
Na realidade alguns clubes jogam na sua torcida boa parte de sua grandeza. Outros, a ignoram. Os ignorados usam os titulos pra argumentar. Os celebrados usam o tamanho, a fidelidade e a importancia. Alguem tem razão?
Sim, tem. Os que acham que ter torcida é fundamental e relevante.
Porque é. Mais do que titulos.
Pois os titulos são apenas um meio de buscar torcida. Logo, se voce ja está na Libertadores, a Copa do Brasil perde importancia. Mesma situação pra torcidas.
Um clube só é grande porque tem quem acompanhe. Por isso bato na tecla de que time pequeno morre pequeno. NÃo vira grande. E time grande, em 99% dos casos, morre grande.
Grandeza é um termo que determina tamanho. E tamanho está diretamente ligado a torcida. Você pode dar 20 Libertadores ao São Caetano, se ele continuar com a torcida que tem, não será noticia e nem terá lucro. Não adianta, não existe essa matematica.
Pode fazer CT, arrumar patrocinador e trazer o Kaka. Sem torcida, não faz sentido algum. O clube é o que é, seja ele qual for, porque tem seus CLIENTES, como quaquer empresa. Portanto, ter ou não ter torcida tem tudo a ver com grandeza e importancia.
Seu time ganha da TV porque tem torcida.
Seu time vende camisa porque tem torcida.
Seu time vende ingressos porque tem torcida
Seu time vende patrocinador porque tem torcida.
Logo, sem torcida, seu time não existe.
Torcida ganha jogo? Não sei. Acho que ajuda muito. Mas, se não ganha jogo, ganha todo o resto de dinheiro que o clube consegue.
Voce pode fazer bom uso ou não dessa torcida. São outros 500. Mas, ela é a razão do clube existir e da grandeza que conquistou.
Na verdade, conquistou torcida. E atraves dela, grandeza.
Times com grandes torcidas tem toda razão em exalta-la. Ela se torna um produto agregado. Ou voce acha que todo flamenguista vai ao Maracanã só pra ver o time? Muitos vão pra ver a torcida. É valor agregado…
Quando um corintiano diz: “Não tem estadio, nao tem Libertadores… mas é o Corinthians”, ele não está mentindo. Ele está dizendo que a alegria dele é ser corinthians, nào ser campeão apenas ou exaltar uma vantagem qualquer. E eles são assim mesmo.
Parte porque repetimos isso ate que eles acreditassem, parte por natureza.
Você nota diferencas entre torcidas. E elas existem pela historia que nós, imprensa, contamos.
Quando dizemos que a torcida do Galo é forte, ela se sente parte importante do jogo. E aí, ela vai.
Quando dizemos que a torcida do SPFC não gosta de ir no jogo, ela se sente mais fragilizada e não se sente tão importante. Afinal, o time nunca precisou dela pra ser o que é em campo.
Isso gera um perfil.
Que começa com a historia do clube, e se mistura com o que a mídia faz hoje.
É óbvio que o corintiano vai ter um orgulho historico e tradicional maior que o sãopaulino, por exemplo. O surgimento destes clubes era exatamente o funcionario contra o patrão. Foi assim que tudo começou. O time do povão, o time da elite. Nada mais natural que o povão ter o orgulho de ter igualado ou superado o patrão em algo.
Tudo tem um argumento historico grande, que por preguiça e falta de informação a maioria ignora.
Você ouve, sempre, na porta do Morumbi: “É Libertadoes!!! Tem que vir”.
E ouve, quase sempre, na porta do Pacaembu: “Foda-se o que é, é o Corinthians”.
Tem dos dois lados os dois casos. Mas, na maioria dos casos, a gente consegue identificar um chamativo diferente. Um vai porque vai. O outro porque o espetaculo atraiu. São culturas, que começam em 1900.
Torcida tem importancia gigantesca. Sua presença idem, assim como sua fidelidade.
A grandeza de um clube está diretamente ligada a torcida. Pois é atraves dela que ele se torna um bom produto ou não. Logo, ter torcida significa grandeza.
Não só isso. Mas, principalmente isso.
A discussão sobre torcidas não é tola. Pelo contrário, é fundamental.
Cansei de cututucar a torcida do SPFC na ET. Porque gosto? Não, porque queria tentar mexer com eles. NÃo deu, e nunca dará. A diretoria do clube sabe disso e não esconde internamente que buscar uma postura fiel e mais apaixonada ali é perda de tempo. Culturalmente, o sãopaulino atrela sua paixão ao momento do clube.
Como todos. Mas, mais do que todos.
E isso se deve, também, aos resultados. O Corintiano aprendeu a amar incondicionalmente. Sofreu muito, seu time vivia em crise, perdendo, etc. O sãopaulino se acostumou a condicionar a paixão ao resultado, pois sempre estava em finais. Como o flamenguista tem orgulho da sua nação. E tem que ter. Porque, sem titulos grandiosos e fases brilhantes ha mais de 20 anos, o clube ainda consegue os melhores patrocinadores.
Mal usados, sem duvida.Mas consegue.
E consegue porque tem torcida.
Torcida esta que, por meios diretos e indiretos, determinam a importancia de um clube e, portanto, seu valor.
Você, torcedor, vale muito mais do que pensa. E fazer parte de uma torcida, seja ela qual for, é motivo de orgulho sim.
Afinal, são vocês que mantem seu clube vivo.
abs,
RicaPerrone


I Mundialito de futebol de Areia começa com muita emoção

O Corinthians estreiou no I Mundialito de Futebol de Areia, jogando em "casa", contra o Sporting de Portugal. Mesmo com alguns dos principais jogadores da modalidade, o alvinegro não teve vida  fácil diante do time português, que logo no seu primeiro ataque abriu o placar, mostrando que também veio para disputar o título. Como já era esperado  a Fiel se fez presente com  cerca de três mil torcedores na arena, que empurraram o time durante toda  a partida, assim como já  acontece nos gramados. 
O time paulista mesmo saindo atrás, não demorou muito para ir se acertando e rapidamente chegou ao empate, com um gol de Juninho Alagoano, porém, mantendo o equilíbrio que marcou todo o jogo, o Sporting logo fez seu segundo gol. Mesmo com a desvantagem  a torcida  continuou a fazer  seu papel e apoiou o Corinthians, que ao  contrário do que ocorreu no  início  da partida,  continuou com falhas na defesa facilitando que o adversário logo marcasse mais um gol.
A transmissão do segundo período  da  partida,  foi prejudicada  pois, com a visita do presidente Barack Obama ao Brasil, a Rede Globo priorizou a transmissão da chegada de Obama ao  Palácio do Planalto, cortando não apenas as imagens da  partida, mas também qualquer outro tipo de informação, quando as imagens voltaram, já estavamos no final do segundo período e o placar marcava  3 a 1 para os lusitanos.
O último período foi emocionante  como já  era  esperado e o Corinthians passou a buscar cad  vez mais o gol, ao menos para tentar o empate e levar a partida  para a prorrogação e  o objetivo foi alcançado faltando poucos minutos para  o encerramento da partida  e para coroar a festa alvinegra,  faltando cerca de dois minutos para o  final  do jogo, Juninho Alagoano, que tinha  feito o primeiro gol  do Corinthians, aproveitou o rebote dado pelo goleiro adversário e balançou a  rede dando números finais ao placar.
Pelo o que se pode ver até agora  no Mundialito, teremos  muitas emoções até  o dia  26 de março, principalmente quando tivermos clássicos como os já  confirmados Corinthians x Santos e Flamengo e Vasco.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Contradições da globalização

Seu carro é japonês.
Seu combustível é inglês.
Sua pizza é italiana.
Sua batata é irlandesa.
Sua cerveja é alemã.
Seu vinho é chileno.
Sua democracia é grega.
Seu café é colombiano.
Seu chocolate é francês
Sua música é brasileira.
Seu relógio é suíço.
Sua camisa é indiana.
Seu jeans é americano.
Seus sapatos são tailandeses.
Seu eletrônicos são chineses.

Seu computador é coreano.
Seu celular é finlandês.
Seu vodka é russa.
Seu energético é austriaco. 
Seu whisky é escocês.
Sua carne é argentina.

E você reclama que seu vizinho é um imigrante?
Controle-se! E principalmente, reveja seus conceitos.

P.S.: O  texto é uma livre adaptação de outro texto extraído  da internet. É evidente que aqui temos exemplos de produtos, que podem ter menor qualidade que os mesmos produzidos no Brasil, ou de países  já citados, mas a intenção do texto é provocar a reflexão, quanto a contradição Globalização x Xenofobia, que é o preconceito contra  estrangeiros/imigrantes.

terça-feira, 8 de março de 2011

Engels e as origens da opressão da mulher*

* Em homenagem ao Dia internacional da Mulher, publico aqui atigo do historiador Augusto Buonicore, extraído do Blog de Altamiro Borges (http://altamiroborges.blogspot.com)

Reproduzo artido do historiador Augusto Buonicore:

Marx e Engels foram, no século 19, os pensadores que mais contribuíram para o desvendamento das verdadeiras origens da opressão da mulher e, com isso, criaram as condições para que fossem construídos os caminhos que conduziriam à sua libertação. Um dos marcos deste processo foi a publicação, em 1884, do livro "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado".

Esta obra, escrita por Engels, teve por base uma série de anotações deixadas pelo próprio Marx, que havia falecido no ano anterior à sua publicação. Por isso, segundo seu autor, o livro foi “a execução de um testamento” e concluiu: “o meu trabalho só debilmente pode substituir aquele que o meu falecido amigo não chegou a escrever”. Modéstia à parte, o livro se tornou um êxito de venda – atingindo 4 edições em menos de sete anos – e foi traduzido em várias línguas. Até hoje continua sendo uma referência obrigatória para todos aqueles que querem entender melhor a formação da família e do Estado modernos.

Trataremos neste pequeno artigo apenas dos aspectos referentes à história da família e, consequentemente, da história da derrota da mulher no seu interior e os caminhos apontados por Engels (e Marx) para superação desta opressão milenar.

A “ciência da família” estava dando os seus primeiros passos quando os dois pensadores socialistas alemães se interessaram por ela. A obra pioneira neste campo havia sido O direito Materno de Bachofen, publicada em 1861. Nela o autor expõe, pela primeira vez e para escândalo geral, a tese de que nas sociedades primitivas, em certo período, teria predominado o matriarcado – ou seja, havia predominado a ascendência social e política das mulheres sobre os homens.

Engels, no prefácio de 1891, referindo-se a descoberta de Bachofen, escreveu: “primitivamente não se podia contar a descendência senão por uma linha feminina (..) essa situação primitiva das mães, como os únicos genitores certos de seus filhos, lhes assegurou (...) a posição social mais elevada que tiveram (...), Banchofen não enunciou esses princípios com tanta clareza (...) mas, o simples fato de tê-los demonstrado, em 1861, tinha o significado de uma revolução”.

Até a década de sessenta (do século 19), continuou, “não se poderia sequer pensar em uma história da família. As ciências históricas ainda se achavam, nesse domínio, sob a influência dos Cinco Livros de Moisés. A forma patriarcal da família, pintada nesses cinco livros como maior riqueza de minúcias do que em qualquer outro lugar, não somente era admitida, sem reservas, como a mais antiga, como também se identificava – descontando a poligamia – com a família burguesa de hoje, de modo que era como se a família não tivesse tido evolução alguma através da história”. Era como se Deus e/ou a Natureza tivessem, desde sempre, reservado à mulher um papel subalterno no interior da família e da sociedade.

Na seqüência do livro de Bachofen foram publicadas obras como O casamento primitivo (1865) de autoria de Mac Lennan, Origem da Civilização (1870) de Lubbock e, por fim, A sociedade antiga (1877) de Lewis Morgan. Esta última teve um forte impacto sobre Marx e Engels. No prefácio de A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado afirmou-se: “Na América, Morgan descobriu de novo, e à sua maneira, a concepção materialista da história – formulada por Marx, quarenta anos antes”.

Isso não significa que Engels e Marx abonassem tudo o que dissera Morgan. O próprio Engels escreveu: “A coisa, aliás, não teria sentido se eu quisesse escrever ‘objetivamente’ não criticando Morgan, não utilizando os resultados recentemente conseguidos, não os colocando em relação como nossas concepções e os dados já estabelecidos. Isto não serviria em nada aos nossos operários”. Na última versão da obra (1891), Engels já sentiu a necessidade de fazer algumas alterações baseadas no desenvolvimento da ciência nos sete anos decorrido desde a primeira edição.

O grande mérito destas obras, publicadas nas décadas de 1870 e 1880, foi a constatação de que a família tinha história e que, ao longo dos séculos, tinha conhecido várias formas. A família monogâmico-patriarcal era apenas uma delas. Conclusão: o poder masculino e a submissão da mulher não eram eternos, como diziam as religiões e as pseudociências racistas e sexistas da época.

Entre 1880 e 1881, Marx estudou profundamente a obra de Morgan e produziu cerca de cem páginas de anotações. Depois passou a devorar o que havia de mais atualizado sobre o assunto. O seu objetivo era escrever um tratado sobre a evolução da família e a relação entre os sexos, mas morreu antes que pudesse concluir o seu ousado projeto. Infelizmente Marx morreu, também, sem concluir os capítulos sobre as classes sociais e o Estado, que comporiam a sua obra magna O Capital. Talvez, se tivesse concluído estes importantes trabalhos, teríamos uma outra visão sobre o fundador do materialismo-histórico.

A empolgação de Engels pelas descobertas de homens como Bachofen e, especialmente Morgan, pode ser aquilatada ainda no prefácio de 1891. Ali concluiu que o “descobrimento da primitiva gens de direito materno, como etapa anterior à gens e direito paterno dos povos civilizados, tem, para a história primitiva, a mesma importância que a teoria da evolução de Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia, enunciada por Marx, para a economia política”.

Morgan havia ido mais longe que Bachofen, que era idealista, ao afirmar que a evolução da família estava relacionada, em última instância, às transformações ocorridas no mundo da produção. Foi do livro de Morgan, por exemplo, que Engels e Marx extraíram a famosa divisão da sociedade antiga em “três épocas principais”: estado selvagem, barbárie e civilização - divididos segundo os “progressos obtidos na produção dos meios de subsistência”. Morgan, também, tratou de maneira mais fundamentada – e de maneira materialista - a transição do matriarcado ao patriarcado monogâmico.

Seguindo a trilha aberta Morgan, Engels afirmou: “Temos, pois, três formas principais de casamento que correspondem grosseiramente aos três estágios principais da evolução humana. No estado selvagem, o casamento por grupos; na barbárie o casamento sindiástico, na civilização, a monogamia completada pelo adultério e a prostituição”. Atente-se aqui para as palavras “três épocas principais” (e não únicas) e “correspondem grosseiramente” (e não exatamente).

Na sociedade primitiva a descendência “contava apenas pela linha feminina”. Os filhos não pertenciam a gens paterna e sim a gens materna. “Com a morte do proprietário de rebanhos estes teriam de passar primeiramente para seus irmãos e irmãs e aos filhos destes últimos, ou aos descendentes das irmãs de sua mãe. Quanto aos seus próprios filhos, eram deserdados”.

Continuou Engels: “À medida, portanto, que as riquezas aumentavam estas davam ao homem, por um lado, uma situação mais importante na família que a da mulher, e, por outro lado, faziam nascer nele a idéia de utilização dessa situação a fim de que revertesse em benefício dos filhos a ordem de sucessão tradicional. Mas isso não podia ser feito enquanto permanecia em vigor a filiação segundo o direito materno. Este deveria, assim, ser abolido e foi o que se verificou”. Assim “foi estabelecida a filiação masculina e o direito hereditário paterno”.

Engels, como teórico socialista, tinha plena consciência da significação social e política das descobertas daqueles cientistas, particularmente no que dizia respeito à libertação da mulher. Para ele ficava claro que a “reversão do direito materno foi a grande derrota histórica do sexo feminino. O homem passou a governar também na casa, a mulher foi degradada, escravizada, tornou-se escrava do prazer do homem e um simples instrumento de reprodução”. A monogamia, assim, “não apareceria de modo algum, na história, como um acordo entre o homem e a mulher e muito menos como a forma mais elevada de casamento. Ao contrário, ela aparece sob a forma de escravidão de um sexo pelo outro, como a proclamação de um conflito entre os sexos até então desconhecido em toda a pré-história”.

Por isso, concluiu que “o primeiro antagonismo de classe que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia e a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino pelo sexo masculino. A monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, ela abre, ao lado da escravatura e da propriedade privada, a época que dura ainda hoje, onde cada passo para frente é ao mesmo tempo um relativo passo atrás, o bem-estar e o progresso de uns se realizam através da infelicidade e do recalcamento de outros”.

A monogamia teria sido “fundada sob a dominação do homem com o fim expresso de procriar filhos duma paternidade incontestável, e essa paternidade é exigida porque essas crianças devem, na qualidade de herdeiros diretos, entrar um dia na posse da fortuna paterna.” Agora “somente o homem pode romper esse laço (matrimonial)”, “o direito da infidelidade conjugal fica-lhe (...) garantido pelo menos pelos costumes”, no entanto, a mulher que deseje conquistar sua liberdade sexual será “punida mais severamente do que em qualquer outra época precedente”. Nesta forma de casamento e de família, “o que para a mulher é um crime com graves conseqüências legais e sociais, é considerado para o homem como uma honra, ou, na pior das hipóteses, como uma leve mácula que ele carrega com prazer”.

A monogamia gerava uma sociedade essencialmente hipócrita e Engels ironizou esta situação: “Os homens haviam obtido vitória sobre as mulheres, mas derrotadas se encarregaram generosamente de coroar a fronte dos vencedores. Ao lado da monogamia e do heterismo, o adultério torna-se uma instituição social fatal – proscrita, rigorosamente punida, mas impossível de ser suprimida. A certidão da paternidade repousa, antes e depois (...) na convicção moral, e, para resolver a insolúvel contradição, o código de Napoleão decreta, art. 312: ‘A criança concebida durante o casamento tem por pai o marido’. Eis aí o último resultado de três mil anos de monogamia.” Lembramos que Engels escreveu estas palavras em 1884, quando a monogamia-patriarcal reinava quase absoluta no mundo.

O primeiro passo para emancipação – e não o último - seria a incorporação da mulher no trabalho social produtivo. Para Engels (e para Marx) “a emancipação da mulher, sua igualdade de condição com o homem é e continuará impossível enquanto a mulher for excluída do trabalho social produtivo e tiver de limitar-se o trabalho privado doméstico. Para que a emancipação se torne factível é preciso, antes de tudo, que a mulher possa participar da produção em larga escala social e que o trabalho doméstico não a ocupe além de uma medida insignificante”.

O capitalismo iniciou esta revolução democrática, mas foi incapaz de concluí-la, pois a forma monogâmico-patriarcal – que está na gênese da dominação da mulher, nasceu justamente da “concentração das grandes riquezas nas mesmas mãos – as dos homens – e do desejo de transmitir essas riquezas por heranças aos filhos desses mesmos homens”. Assim, “a preponderância do homem no casamento é uma simples conseqüência da sua preponderância econômica e desaparecerá com esta”.

A superação deste estado de coisa milenar deve passar, necessariamente, por uma revolução social que transforme os meios de produção, e a riqueza produzida por eles, em propriedade social. Assim, a conclusão do processo emancipatório passa pela eliminação da propriedade privada dos meios de produção e pelo fim da exploração do homem pelo homem. Somente uma profunda revolução social, de caráter socialista, poderia limpar o terreno para que a libertação da mulher pudesse, finalmente, ser completada. Engels, em minha opinião, subestima a capacidade do capitalismo de quebrar “a preponderância econômica” do homem no interior da família. Afinal, o século 19 dava pouquíssimos sinais de que isso poderia acontecer.

E, como escrevi no último artigo, a “conquista do socialismo é uma das condições para emancipação da mulher, mas ela não é ainda suficiente. A emancipação das mulheres exige uma dura e prolongada luta de idéias no interior do Partido e da sociedade, inclusive após a revolução socialista. A emancipação, portanto, não será o resultado automático – mais ou menos natural – do processo de expropriação dos principais meios de produção das mãos da burguesia”.

Engels acreditava que, na sociedade de comunista futura, a monogamia deveria adquirir uma nova qualidade, pois se tornaria “enfim, uma realidade – mesmo para o homem”. Seria, assim, uma monogamia de novo tipo, assentada na plena igualdade e liberdade entre os sexos.

Marx e Engels, ao contrário que pensam alguns, estavam longe de serem defensores da “promiscuidade sexual”.

Conclusão

A antropologia e a etnologia modernas negam que a humanidade tenha, necessariamente, passado por uma fase caracterizada pela ascendência da mulher sobre o homem. Alguns pesquisadores chegam mesmo a negar a existência de tais sociedades matriarcais.

Uma renomada marxista (e feminista) brasileira, Zuleika Alambert, também, aderiu às críticas feitas às conclusões de Morgan e Engels. Para ela o controle nas sociedades primitivas “sempre (grifo é nosso) foram exercido pelos homens”, pois a “relação entre os sexos nas sociedades primitivas era, fundamentalmente, assimétrica e não recíproca. No sistema matrilinear a autoridade pertencia ao irmão da mulher e ao tio materno, enquanto no patrilinear pertencia ao pai e ao marido.” Mas, logo em seguida, relativiza tal afirmação ao dizer: “Assim, por exemplo, nem a tese do matriarcado total (grifo nosso), nem a equivalência da descendência matriarcal com uma posição de predomínio social da mulher foram confirmadas pela pesquisa moderna”.

Por outro lado, até a segunda metade do século 20, autores soviéticos, como Diakov e Kovalev, continuavam afirmando que o “clã materno” era “uma fase inevitável da evolução da sociedade humana” e que no matriarcado “a mulher era igual ao homem na vida econômica e social”. Para eles, os que buscavam “desmentir as idéias sustentadas por Engels” visavam, exclusivamente, “provar a eternidade do papel subalterno da mulher”. Mas, contraditoriamente, seriam as teóricas do movimento feminista que mais se bateriam contra a tese do matriarcado.

Acho que nesta discussão seria bom não irmos nem tanto ao céu nem tanto a terra. Hoje já se sabe que a classificação da história das sociedades primitivas feita por Morgan é bastante imprecisa. O próprio Engels, logo na abertura de seu livro, afirmou que a classificação de Morgan “permanecerá em vigor até que uma riqueza de dados muito mais considerável nos obrigue a modificá-la”. Como previu, os novos aportes oferecidos pela etnologia, antropologia e pela história nos obrigaram a reformular os modelos de Morgan.

O principal erro desses autores revolucionários do século XIX foi o de ter conjeturado a existência do matriarcado em todas as sociedades primitivas na fase denominada barbárie. Algo que se mostrou incorreto. Os próprios autores soviéticos citados acima chegaram à conclusão de que “enquanto Morgan (...) tinha indicado só uma linha de evolução da sociedade humana, os sábios do século 20 puderam traçar as vias complexas e múltiplas do progresso do homem”.

É claro que isto não nega, como afirmam alguns autores anti-engelsianos, que em determinadas sociedades possam ter existido – e os indícios são fortes neste sentido – organizações sociais de tipo matriarcal na qual as mulheres pudessem desfrutar de um maior prestigio social e econômico do que viriam a ter nos períodos posteriores e o simples reconhecimento desta possibilidade continua ter para nós um significado revolucionário.

Bibliografia

- Alambert, Zuleika, Feminismo: o ponto de vista marxista, Ed. Nobel, S.P., 1986.

- Bebel, August – La mujer y el socialismo, Akal editor, Espanha, 1977.

- Diakov, V e Kovalev, S. – A Sociedade Primitiva, Global editora, S.P., 1982.

- Engels, F – A Origem da família, da propriedade privada e do Estado, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1974.

- Garaudy, Roger – Liberação da mulher. Liberação humana, Ed. Zahar, RJ., 1982

- Lênin, V.I – Sobre a emancipação da mulher, Ed. Alfa-Omega, S.P., 1980

- Marx, Engels e Lênin, Sobre a Mulher, Global editora, S.P., 1980

- Saffioti, Heleieth I. B. – A mulher na sociedade de classe: Mito e realidade, Ed. Vozes, Petrópolis, 1976.