segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

E o samba atravessou

Já faz tempos que os desfiles do carnaval são patrocinados, pois o espetáculo tem um custo muito alto, o que praticamente inviabiliza a manutenção das escolas, sem o dinheiro vindo dos patrocinadores. Todos os anos, algumas escolas optam por enredos patrocinados e os mesmos sempre envolvem cifras milionárias.

Em 2015, não é diferente, algumas escolas apresentam enredos patrocinados. A Unidos da Tijuca, agora sem o gênio Paulo Barros, faz um desfile financiado pela gigante suíça Nestlé e contará, entre seus componentes, até com jogadoras do time de vôlei patrocinado pela empresa.

Mas as vezes, o patrocínio aos desfiles acaba gerando polêmicas. Anos atrás a Vila Isabel, desfilou com o enredo falando sobre o herói da independência da América Espanhola, Simon Bolívar. Para isso recebeu uma vultosa quantia vinda da estatal venezuelana PDVSA. Como o país era governado por Hugo Chávez, a ideia recebeu duras críticas no Brasil, mas a escola de Noel e Martinho, não tomou conhecimento das críticas e ganhou o carnaval, acabando com um longo jejum.

Anos depois a mesma Vila, apresentou um desfile falando sobre o homem do campo e a agricultura, o desfile foi financiado por uma gigante do setor de agrotóxicos e foi alvo de críticas de alguns movimentos sócias ligados a questão agrária, mas não passou nem perto do fuzuê da época do enredo bolivariano.

Agora, quem vem com o desfile patrocinado, é a também tradicional Beija-flor. Falando da África e de seu povo, a escola de Nilópolis, recebeu a quantia histórica de R$ 10 milhões, vinda do governo da Guiné Equatorial. Foi ai, que a escola deixou o samba atravessar.

 Guiné Equatorial é hoje um dos países mais pobres da África e consequentemente do mundo, mesmo sendo o terceiro maior produtor de petróleo do continente africano. Seu governante é um ditador sanguinário que deu um golpe de Estado no próprio tio, outro ditador. Isso aconteceu no já distante 1979 e desde então ele governa o país como se o mesmo fosse sua propriedade.

Utilizando do terror e do medo que impõe na população, ele se mantém no poder desde então. Quem faz oposição à ele, morre, ou então é obrigado a deixar a Guiné Equatorial. Utilizando-se do poder de governante, ele continua acumulando fortunas, à custa da pobreza da população.

É lamentável que uma escola tradicional como a Beija-flor que já ganhou tantos carnavais, inclusive mostrando a história de luta pela liberdade, protagonizada pelos negros, africanos ou não. Agora, por questões financeiras, se alie a uma figura tão nefasta e opressora como este ditador, que tanto agride a cultura e povo negro.

Por esse motivo, neste carnaval, a Beija-flor deixou de lado sua brilhante história de lutas e glórias e se apequenou ao abraçar esse patrocínio lamentável. No carnaval de 2015, a escola de Nilópolis, nem entrou na avenida, mas já deixou o samba atravessar.

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