quarta-feira, 22 de abril de 2015

Mircea Eliade, um legado controverso

Nascido em 9 de março de 1907, na cidade de Bucareste, na Romênia, Mircea Eliade, foi um destacado professor, historiador das religiões, mitólogo, filósofo e romancista, que se naturalizou estadunidense em 1970. Mircea falava e escrevia de maneira fluente oito idiomas, sendo eles, o romeno, o francês, o alemão, o italiano, o inglês, o hebraico, o persa e o sânscrito.

A maior parte de sua obra foi escrita em romeno e depois em francês e inglês. Foi um dos mais influentes historiadores e filósofos da religião e fez parte do Círculo Eranos.

Mircea é tido como um dos fundadores do estudo moderno da história das religiões e grande estudioso dos mitos elaborou uma visão comparada das religiões encontrando relações de proximidade entre as diferentes culturas e momentos históricos.

Eliade situa sua noção de sagrado, no centro da experiência religiosa do homem. Sua formação de historiador, o levou ao estudo dos mitos, dos sonhos, das visões, do misticismo e do êxtase. Na Índia, estudou ioga e leu, em sânscrito, clássicos do hinduísmo que ainda não tinham sido traduzidos para as línguas ocidentais.

Autor prolífico buscou sintetizar os temas que abordou. Nos seus escritos, destaca com frequência o conceito de hierofania, através do qual ele definiu a manifestação do transcendente em um objeto ou um fenômeno do cosmo. 

Mircea nasceu em uma família cristã ortodoxa, ainda jovem, leu as obras do historiador Raffaele Pettazzoni e do antropólogo James George Frazer no original. Na escola interessava-se por biologia e química e chegou a ter um pequeno laboratório. 

Em 1925, inicia seus estudos na Universidade de Bucareste, formando-se em filosofia. Na universidade, recebe a influência de Nae Ionescu, então assistente do professor Cosntantin Radulescu-Motru no Departamento de Lógica e Teoria do Conhecimento e ativo jornalista, levou o jovem Eliade a se envolver com a extrema direita romena.

Sua tese de mestrado examinava a filosofia na Renascença italiana, de MarsilioFicino a Giordano Bruno.

O interesse sobre o humanismo renascentista foi o maior estimulo para que ele seguisse para a Índia. Seu objetivo era “universalizar” a filosofia “provinciana” herdada de sua educação europeia. Através de um financiamento do marajá de Kassimbazar, Mircea permaneceu quatro anos estudando no país. 

Em 1928, foi para a Universidade de Calcutá, onde estudou sânscrito e filosofia, sob a orientação de Surendranath Dasgupta (1885-1952), um bengali, educado em Cambridge e autor de History of Indian Philosophy. 

Eliade era um bom aluno e morava na casa do professor. Entretanto, a relação entre os dois se deteriora, quando ele se apaixona pela filha de seu professor. A fracassada história de amor teria sido inspiração para o romance erótico Isabel Si Apele Diavolului (1930), no qual os personagens principais seriam um europeu e um jovem indiana.

A partir das pesquisas sobre a ioga, Mircea elabora sua tese de doutoramento, que ele apresenta após retornar a Bucareste e servir o exército. Em 1936, publica sua tese “Ioga: Ensaio sobre a origem do misticismo indiano”, em francês. Posteriormente republica a mesma, agora revisada e com o nome “Ioga, Imortalidade e Liberdade”. No mesmo ano passa a dar aula na Universidade de Bucareste, como professor da faculdade de letras.

Entre os anos de 1933 e 1939, participa ativamente do grupo Criterion, que promovia seminários sobre temas variados e era influenciado pela filosofia do Trairismo, a busca do autêntico, através da experiência vivida, considerada a única fonte de autenticidade. Em 1934, casa-se com Nina Mares.

Em 1936 é acusado de pornografia, ao publicar Dominisoara Christina e chegou a ser suspenso da universidade por isso. Em 1938, Ionescu é preso e Eliade demitido. A acusação contra Ionescu era pertencer a Guarda de Ferro, organização romena de extrema-direita, antissemita e simpatizante do nazismo. Por isso, Eliade também acaba sendo preso por um curto período.

Em 1940, Eliade passa a trabalhar como adido cultural e de imprensa nas representações diplomáticas romenas em Londres e Lisboa (1941-44), tendo residido em Lisboa e após a morte de sua mulher em 1944, passa a morar em Cascais. Na capital portuguesa, se interessa pelas obras de autores como Sá de Miranda, Camões e Eça de Queiroz e empenha-se em estabelecer elos mais fortes entre os latinos do ocidente e do oriente, impulsionando um maior intercâmbio cultural entre os países.

Com o fim da guerra, suas relações com Ionescu o impedem de retornar para a Romênia, que passa a ser comunista. Passa a lecionar em várias universidades europeias. Em 1945, transfere-se para Paris e passa a dar aulas de religião comparada na Sorbonne e na École Pratique des Hautes Études, a convite de Georges Dumèzil. Faz amizades com Eugène Ionesco e George Bataille, além de Dumèzil. 

Eliade ganha renome como professor de história das religiões. Leciona no Instituto do Extremo Oriente, em Roma, no Instituto Jung de Zurique e na Universidade de Chicago. Em 1950, casa-se com Christinel Cotrescu. Neste tempo, seus trabalhos passam a ser publicados em francês. Em 1954, lança “A Floresta Proibida”, que Eliade considera seu melhor romance.

Em Portugal, escreveu “Os Romenos, Latinos do Oriente”, uma síntese histórica, cultural e espiritual de seu país. Também publicou “Salazar e a Revolução Portuguesa”, livro em que defendia que o general Ion Antonescu, no poder na Romênia, poderia se inspirar no regime português, para criar um Estado autoritário, mas não totalitário. 

O livro não surtiu efeito e não agradou nem Antonescu, que não seguiu o modelo português e nem ao Salazar, que não permitiu que o livro fosse traduzido para o português. No livro “Diário Português”, obra conhecida apenas em 2001, através de uma editora de Barcelona e com edição portuguesa de 2008, Mircea Eliade, mostrou-se por vezes crítico, embora não hostil a Portugal, país que ele considerava periférico e um pouco à margem da história e da cultura.

Posteriormente, estabeleceu-se em Paris e, finalmente em Chicago. Visitado por Joachim Wach, seu predecessor na Universidade de Chicago, um comparativista e hermeneuticista, Em 1956, Eliade foi convidado para dar aulas naquela universidade sobre Tipos de Iniciação. Nesta época, publicou Nascimento e Renascimento. Em 1958, foi convidado para chefiar o Departamento de Religião da Universidade, cargo que ocupou até a morte em 22 de abril 1986.

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