segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A importância da formação profissional

Já faz alguns anos que o jornalismo sofreu o maior abalo que a profissão poderia receber. Sua desregulamentação, baseada mais em interesses sócio econômicos, principalmente vindo da parte de entidades como as patronais ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), entre outras ligadas a área serviu apenas para piorar a qualidade do serviço prestado pelos jornalistas.

Os argumentos para fundamentar essa decisão são fracos e distorcidos. Alegam que o diploma fere a liberdade de expressão, o que é uma inverdade, uma vez que a internet e as redes sociais estão ai justamente para proporcionar às pessoas que expressem suas opiniões sobre qualquer tema. Mas infelizmente, ao que parece, essa é uma guerra perdida pela categoria.

Com a mudança da legislação juntamente com as redes sociais e a internet, vemos já faz algum tempo, a proliferação de boatos, mentiras e factóides, que são amplamente divulgados como se fosse verdade. Vai ver essas pessoas ainda deem razão para Joseph Goebbls (1897-1945), Ministro da Propaganda Nazista que alardeava que "uma mentira contada mil vezes, acaba virando verdade".

Esta semana, vi acontecer algo desse tipo. Circulou nas redes sociais uma informação de que um trabalhador do setor off-shore, havia sido desembarcado e estava internado no setor de infectologia de um hospital, com suspeita de Ebola. Isso mesmo, a doença que mais preocupa o mundo, na atualidade finalmente havia chegado a cidade.

A história se espalhou de maneira rápida e gerou muitos comentários nas redes sociais, até por que a notícia dava conta de que a cidade não está preparada para lhe dar com uma situação assim o que obviamente, deixou a população preocupada­­­­­­­. Pouco tempo depois foi divulgado pela imprensa profissional que a história não passava de boato, inclusive com declaração de um diretor do hospital citado.

Alguns pontos da história, já apontavam para a hipótese de não ser real. Quem divulgou a informação, esqueceu de afirmar qual médico teria lhe passado essa informação, o que é aceitável, uma vez que o “jornalista” tem a prerrogativa de não ser obrigado a entregar suas “fontes”, mas também esqueceram informações importantes como: para qual empresa esse cidadão trabalhava? Quem era ele? Como teria sido infectado? Além de outras barrigas como informar que o cidadão, inicialmente estaria em uma plataforma e depois se confirmar que o caso do internado, que era na verdade amidalite, informar que o fato ocorrera em um navio que passou pelo sul da África.

Para quem não sabe ou não se lembra, o sul da África não registrou nenhum caso de Ebola, a doença esta concentrada na região noroeste do continente, distante muitos quilômetros do sul.

Essas “arestas” mostram que o jornalismo precisa ser levado mais à sério por quem quer trabalhar com ele. Um dos maiores escritores da literatura brasileira, JoãoCabral de Melo Neto (1920-1999), certa vez nos alertou: “quem trabalha com palavras, trabalha essencialmente com a verdade”, e olha que o autor da mesma, ainda que tenha trabalhado com o jornalismo assim como muitos de seus pares de literatura, atuou de maneira muito mais forte em uma área onde nem sempre as palavras combinam com a verdade, até por que a literatura tem essa liberdade, ao contrário do jornalismo.

E é exatamente para evitar casos danosos para a sociedade como este citado nesse espaço, e que é tão comum de vermos acontecer, que o jornalismo profissional é fundamental para a sociedade e desta forma deve cobrar sim uma formação específica para o exercício da profissão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário