segunda-feira, 24 de maio de 2010

Incoerência brasileira

Não é de hoje que a sociedade brasileira, defende e traz para o debate, a questão da abertura dos arquivos da ditadura militar. Algo que aliás, já deveria ter acontecido há tempos, afinal já se vão 25 anos, do fim do triste regime e os documentos arquivados, são peças importantes do quebra cabeça, que forma a história do nosso país. Talvez, a omissão frente a essa questão, seja o maior erro do governo Lula, que termina esse ano.
É evidente que o tema é polêmico, mas já esta passando da hora de se resolver essa questão. não há por que temer tal abertura, uma vez que os crimes cometidos, já prescreveram e por tanto, não podem gerar punição à seus autores. Porém, o grande problema que vejo na questão, não é nem a resistência por parte dos setores mais conservadores de nossa sociedade, mas a leitura dos fatos, que é realizada de maneira distorcida por muitos, para moldá-la conforme seus próprios interesses.
Para algumas pessoas, a abertura dos arquivos e os possíveis processos, que viriam, afetariam também muitos dos nomes que hoje estão no governo e por isso, o mesmo governo não tornará público tais documentos. Pois bem, com isso chegamos a um ponto crucial, que aponta para o fato de muitos "brasileiros", quererem ressuscitar o famoso "Complexo de vira-lata", imortalizado pelo grande escritor e jornalista, Nelson Rodrigues.
Digo isso pelo seguinte. Na Irlanda da década de 20, do século passado, um homem de fibra o coragem chamado Michael Collins, liderou um grupo de irlandeses que pegaram em armas para lutar pela independência do país, frente a Inglaterra, essa ação originou o famoso e temido Exército Republicano Irlandês (IRA). Hoje, mesmo muitos anos após ser morto, Michael ainda é idolatrado em seu país como um dos mártires da independência.
Na África do Sul, em moda este ano, por causa da Copa que começa daqui a poucos dias, Nélson Mandela é celebrado ainda hoje como grande herói daquele país, líder da luta contra o apartheid, ainda que para isso, tenha atuado como guerrilheiro e sabotador, mesmo assim é visto por sul africanos e também pelo mundo como um grande herói, defensor da liberdade.
Na Palestina, ou pelo menos, no que tenta ser reconhecido como Palestina, um homem chamado Yasser Arafat, lutou pela causa palestina, liderando o Fatah, que antes de atuar somente como partido político era uma organização terrorista. Arafat, conquistou respeito internacional e também o Nobel da Paz, prêmio também dado, um ano antes para Mandela.
Todos os três exemplos citados no texto, são heróis e é assim que devem ser tratados. Eles lutaram contra a opressão, seja de ingleses, brancos ou judeus. Dedicaram suas vidas a causa da liberdade. Assim como muitos outros pelo mundo que lutaram contra governos totalitários. Para muitos brasileiros, com excessão de Michael Collins, pouco conhecido no país, os outros dois são sim heróis. Infelizmente, tal comportamento não se repete, quando se referem a nomes de brasileiros que deram a vida pela liberdade solapada pelo regime militar em 1964.
O que difere estes senhores de nomes como Stuart Angel, Wladimir Herzog, Frei Tito, Carlos Lamarca, José Dirceu, José Genuíno, Dilma Rousef, Gabeira, Franklin Martins, entre tantos outros. Todas estas pessoas dedicaram suas vidas ou boa parte delas pela bandeira da liberdade, assim como Michael Collins, Arafat e Mandela por isso, deveriam ser tratados da mesma forma que estes senhores, ou seja, como heróis e não como bandidos ou terroristas.
Aos que afirmarem que estes brasileiros apenas queriam o poder, afinal Dilma, Dirceu, Genuíno, Franklin e Gabeira, estão no poder ainda que em lados diferentes. Lembro que também Arafat, Mandela e Collins lá chegaram. O primeiro foi o chefe da Autoridade Palestina, o segundo presidente da África do Sul e o terceiro, compôs o primeiro governo irlandês como premier, assim sendo, nada os diferem dos brasileiros, a não ser o imortal "complexo de vira-lata "de alguns caboclos perdidos no tempo, ainda querendo ser de um falso 1º mundo.

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