quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Vento que venta cá, nem sempre venta lá

Já acompanho o cenário político há muitos anos e por isso não me espanto ou me assusto com as coisas que eu vejo e como o mesmo acontece em relação a imprensa, o comportamento dela nos períodos eleitorais serve apenas para me chamarem a atenção. Não é de hoje, que as histórias nebulosas envolvendo políticos, empresários e diretores da Petrobras, estão permeando a imprensa brasileira e isso é o normal, mas parte desse comportamento não pode ser ignorado, ainda que o senso comum aponte para isso.

Com a proximidade do primeiro turno da eleição presidencial e com o crescimento recente da possibilidade de o governo sair vencedor, já no primeiro turno, boa parte da imprensa tem pegado pesado nas histórias envolvendo a estatal, seus diretores e políticos importantes nessa disputa que se aproxima. Virou rotina perguntar a candidata Dilma Rousseff, sobre como seria possível alguém na posição dela, não saber das negociatas envolvendo Paulo Roberto, Nestor Cerveró e outros dirigentes da petrolífera, afinal na época em que a Petrobras adquiriu a refinaria de Passadena, nos EUA, Dilma era Presidente do Conselho de Administração da empresa.

Pois bem, é evidente que os casos de corrupção devem ser investigados e os envolvidos punidos, mas me estranha o fato de a grande imprensa destacar tanto a situação da Petrobras e pouco falar de outros casos tão importantes quanto. Eu explico; Na edição nº 22.745, do dia 25 de setembro de 2014, o jornal O Dia, publicou em sua página 19, uma extensa matéria sobre os problemas de superfaturamento e outros rolos envolvendo a Petrobras e a construção da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. A matéria exibe uma foto aérea da área onde a refinaria vem sendo construída, tem foto do ex presidente da estatal José Gabrielli e um box, mostrando que a obra já estourou o orçamento inicial em nove vezes. 

Ao todo, a matéria ocupa, cerca de dois terços da página e ara quem não tem prática com o jornalismo, precisa ser informado de alguns "truques" da profissão. Matérias em páginas ímpares são as de maior destaque, pois são as mais facilmente visualizadas pelo leitor, principalmente as que aparecem no topo das mesmas - a matéria em questão ocupa os dois terços superiores da página e isso não aconteceu de maneira não intencional -.

Logo a baixo, da matéria citada, vem completando a página, outra matéria falando sobre a investigação que a justiça estadunidense, está fazendo sobre a atuação de alguns funcionários que são suspeitos de pagar propinas a um militar da reserva da República Dominicana, para que este fizesse lobby, junto ao governo daquele país, para que esse comprasse alguns aviões Super Tucano.

Além das matérias, o jornal publicou também as chamadas de capa, para as duas notícias e seguindo o mesmo padrão de espaço. O jornal O Globo, em sua edição 29.634, do mesmo dia 25 de setembro de 2014, fez quase igual ao concorrente publicando uma matéria que ocupou também dois terços da página 8 e que teve chamada de capa, destacada no topo direito da mesma. Já a matéria sobre a Embraer, não teve chamada de capa - apenas no caderno de economia, onde a matéria ocupou o topo da página 26 e teve o tamanho de apenas um quarto de página.

O "inusitado" da questão, é que hoje a Embraer, uma das gigantes mundiais do setor, não é mais uma estatal e o controle acionário está nas mãos da iniciativa privada, o que inviabiliza o uso político da empresa e dos fatos relacionados a ela, para o bem ou para o mal e por isso a repercussão desse fato não tem o mesmo peso e tamanho que as denúncias envolvendo a Petrobras.

Agora, mesmo já tendo quase a certeza de que pouca coisa mudará em relação ao fato ligado a Embraer, não veremos jornalistas questionando e ou cobrando dos diretores da fabricante de aviões se os mesmos sabiam dos casos de suborno e lobby que favoreceu a empresa nessa transação como país caribenho, afinal o "peso político" dessa denúncia, é quase tão leve quanto o de uma pluma.

Assim sendo, tomo aqui a liberdade de alterar o famoso ditado popular: "Vento que venta cá, nem sempre venta lá", isso somente acontece quando os "interesses convergem para tal.

* Atualizado as 10h 51 do dia 25 de setembro de 2014.

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