domingo, 28 de setembro de 2014

A direita que não se assume

Não é apenas durante os processos eleitorais, apesar de nesse período isso ficar mais latente, mas a direita brasileira parece ter medo ou vergonha de se assumir como tal. Salvo raras exceções que volta e meia levantam bandeiras típicas da direita, não vem problemas em serem classificados dessa forma. Muitos insistem na balela de que não existe mais esquerda e direita e não aceitam serem classificados como de direita, ou com qualquer outra nomeação que leve a esse fim, como é o caso de termos como neoliberais.

Muitas pessoas defendem causas típicas da direita, apoiam grupos que se classificam de direita, mas não se assumem como tal. As vezes dá a impressão de que ser de direita é algo tão aterrorizante como ser leproso nos tempos de Jesus, ou até mesmo cristão, nos primórdios dessa filosofia, quando os poderosos, perseguiam e matavam, quem se assumia como seguidor de Cristo.

Vemos isso claramente durante o processo eleitoral, quando muitos defendem ideias como privatizações, que segundo eles, serviria para combater a corrupção - o que sabemos ser mentira, pois muitas empresas privadas participam ativamente dos escândalos de corrupção que permeiam o noticiário -. Defendem a não intervenção estatal, na economia e o tal do livre comércio, mas não se assumem de direita, pois ao que parece, pega mal ser de direita.

Essas três "bandeiras", privatizações, não intervenção estatal na economia e o livre comércio são ideias clássicas do liberalismo desde os tempos de Adan Smith (1723-1790), passando por tempos mais recentes como os de nomes como Margaret Thatcher (1925-2013) e Ronald Reagan (1911-2004) símbolos máximos do chamado neoliberalismo. Infelizmente muitos dos neoliberais contemporâneos, talvez por falta de informação, ou de convicção, não aceitam serem assim chamados, ficam afirmando que não se deve "rotular" as pessoas.

Entretanto, essa provavelmente seja a maior contradição dessas pessoas, pois elas que dizem ser contrárias a qualquer tipo de "rótulo", vivem a classificar seus opositores como esquerdopatas, "esquerda caviar", bolivarianos, entre outros termos, inclusive alguns deles são de difícil compreensão, para qualquer pessoa que tenha uma pouco de conhecimento sobre política.

Outro problema latente dessa direita é a falta de conhecimento ou vergonha na cara, para fazer um debate ideológico transparente. Para mostrar que o liberalismo é a melhor opção, apontam os erros dos regimes comunistas que existiram e que causaram sérios danos a humanidade. Entretanto, os mesmos não fazem auto crítica em relação os governos alinhados com o sistema capitalista e ao serem questionados sobre isso, mostram suas ignorâncias, apresentando argumento frágeis para "tirar a responsabilidade" do sistema capitalista. 

Um exemplo claro disso, está no continente africano, que mesmo com alguns poucos países tendo passado por rápidas experiências socialistas que não se consolidaram, como foi o caso de Angola e Argélia, o continente é fruto do colonialismo europeu, fortemente baseado no capitalismo. Foram eles que produziram a realidade atualmente vivida naquele continente, mas hoje justificam os problemas sociais existentes lá, alegando questões tribais que alimentam os conflitos e as opressões que marcam os africanos. 

Esquecem de avisar que esses problemas tribais são alimentados pelos países capitalistas, desde os tempos da escravidão. Quando os europeus se aproveitavam desses conflitos para comprar mão de obra escrava, uma vez que historicamente, os derrotados eram escravizados pelos povos vencedores. É preciso que quem defende práticas e bandeira da direita assuma também o ônus de defender essas teses.

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