quinta-feira, 17 de julho de 2014

Porto pra quem?




No último dia 16 de julho, acompanhei a segunda Audiência Pública sobre o licenciamento ambiental para a implantação do Terminal Portuário do Barreto e confesso que não gostei do que eu vi. Pouca seriedade e consequentemente muito oba-oba por parte da maioria dos presentes.

Não vejo motivos para a dicotomia entre progresso e meio ambiente, como se a valorização de um, inviabilize o outro. Infelizmente, tal pensamento tem ganhado força nesse debate. Encantados com o aumento na geração de emprego, muitos moradores e principalmente empresários, que logicamente lucrarão com o empreendimento, estão em ampla campanha a favor do porto e mostrando que querem o porto a qualquer custo.

Um velho ditado popular russo, afirma que “quando o dinheiro fala, a verdade se cala” e é isso que temos visto aqui em Macaé. A cidade que já vem sofrendo fortes impactos gerados pela indústria do petróleo verá a situação se agravar de maneira considerável.

Hoje a cidade enfrenta problemas de mobilidade urbana, que ficará ainda pior com a movimentação gerada pelo empreendimento e sem um planejamento sério para sanar essa demanda. O mesmo acontecerá em relação ao fornecimento de água, que já é um problema crônico que atinge toda a cidade e com o aumento de indústrias e da população, será agravada.

Outro problema que afeta diretamente os empregos gerados pelo novo porto. Falta aos moradores da cidade, principalmente aos jovens, uma qualificação que garanta à eles a colocação no mercado de trabalho do setor, que é a cada dia mais exigente e excludente. Com isso, teremos os principais empregos gerados pelo terminal, ocupados por gente de fora e não por macaenses.

Isso tudo, sem falar das questões ambientais, tratadas de maneira visivelmente frágil pelos interessados no porto, como, aliás, na segunda audiência ficou claro com a explanação de vários pesquisadores que fizeram o uso da palavra.

Assim sendo, é hora da população pensar mais sobre a questão e refletir não se o porto tem que vir pra Macaé ou não, até por que ele virá e deve vir sim, mas é preciso pensar e debater sobre como esse porto será implantado na cidade e para quem esse porto representará avanços, para a população ou para os empresários?

Um comentário:

  1. A primeira audiência, Ricardo, demonstrou problemas no EIA e houve movimentação maciça dos "contra", daqueles que defendem o meio ambiente contra o desenvolvimento. A dicotomia foi criada pelos conservacionistas. Os "a favor" (boa parcela) enxergam como você: não há dicotomia: vamos fazer o porto beneficiando o meio ambiente degradado localmente. Na primeira audiência, quando os poucos a favor se manifestaram, foram vaiados, a troupe bem organizada impedia de falar, ofendia, etc. Acho que DEMOCRACIA é isso: quem é a favor e quem é contra, se organiza e defende seus pontos de vista. Com relação ao problema da água, olha, a CEDAE não tem o menor interesse em colocar uma adutora de água para Lagomar, Ajuda de Cima, Ajuda de Baixo e São José do Barreto: não é viável comercialmente. No entanto, se a Queiroz Galvão custeia a adutora, aí é outra coisa. Você pode perguntar: mas quem garante se a água chegar pro porto, vai chegar pra população. Hummm... a Constituição Federal, que determina que água deve ser usada para consumo humano em primeiro, para animais, em segundo, para agricultura em terceiro e para indústria, em quarto. Além disso é bem provável que o INEA coloque uma condicionante, assim como fez com o COMPERJ em Itaboraí, obrigando o TEPOR a fornecer a mesma quantidade de água que irá consumir para a população.

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