quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Uoi, Je suis Charlie


Capa da primeira edição pós atentado

Hoje é um dia importante para a imprensa mundial. Faz uma semana que o jornal satírico Charlie Hebdo, com longo histórico de publicar charges que questionam toda forma de extremismo, foi duramente atacado por radicais islâmicos. A ação terrorista vitimou 12 pessoas, entre jornalistas como Charb, editor do jornal e Wolinski, famoso chargista, que influenciou toda uma geração. Entre os mortos estava também o policial francês de origem árabe, Ahmed.

O atentado do dia 7, levantou um amplo debate em relação a liberdade de expressão e o humor. Até onde eles podem ir? Existe algum limite para ambos? Imediatamente após o ataque, a frase "Je suis Charlie" - Eu sou Charlie -, ganhou o mundo e milhares de pessoas utilizaram a mesma para mostrar solidariedade aos jornalistas do Charlie Hebdo.

Quase que paralelamente, surgiu também a frase "Je ne suis Charlie" - Eu não sou Charlie", o anti slogan do primeiro foi propagado pelos críticos a postura que sempre caracterizou o jornal. Surgiram diversos argumentos tanto pró Charlie como contrários ao tablóide. Como num passe de mágica proliferou-se principalmente pela internet um sem número de especialistas em alguma coisa que de certa forma tinha relação com o ocorrido.

Muitos alegavam que o jornal buscou ser alvo do atentado, por desrespeitar a religião islâmica - não se pode retratar de forma alguma o profeta Mohamed - e por isso, havia uma certa lógica no ato grotesco que a imprensa tanto divulgou e comentou. Seguiram a linha que me parece em voga no Brasil, faz alguns anos, de culpabilizar a vítima pelo ocorrido - sim o Charlie Hebdo é a vítima da história e não o algoz -.

E não, o islã também não era nem o alvo do jornal e nem o vilão desse caso. O alvo das críticas desse jornal satírico é o radicalismo religioso, tão presente em muitos grupos que professam o islã.

Não entendo as charges do jornal francês como desrespeito a fé alheia, mas sim como brincadeiras, que devem ser protegidas pelas liberdades de expressão e imprensa. Por isso, sim, eu sou Charlie.

Aos que lembram que os muçulmanos são oprimidos na França e também em vários países europeus, lembro que ser Charlie, não é ser francês e que estas questões envolvendo a falta de liberdade religiosa e cultural para os praticantes do islã, o correto não é afirmar que não se é Charlie, mas sim: "Eu não sou a França".

Ser Charlie, não nos impede de ser Ahmed, ou Baga ou ainda Maidiguri, duas cidades nigerianas onde aconteceram ataques do Boko Haran - outro grupo extremista que segue o islã -.

Hoje, 14 de janeiro de 2015, exatamente uma semana após essa página infeliz da história da imprensa, o Charlie Hebdo, ganhou as bancas novamente, após receber a ajuda do jornal Liberation. É um dia para celebrar, as liberdades de imprensa e de expressão e homenagear, os mortos em Paris, sete dias atrás. Não sou fã da linha editorial adotada pelo jornal francês que me parece muito próxima da linha adotada pelos famosos tablóides sensacionalistas ingleses, como o Daily Mirror e o The Sun, mas é fundamental que a liberdade seja garantida para todos e os assassinatos da semana passada foram um duro golpe contra esse ideário. 

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