sábado, 1 de novembro de 2014

Flertando com o golpismo

Acabaram as eleições e depois de quatro meses de intensos ataques de parte a parte, as urnas apontaram a vitória de Dilma Rousseff (PT), para mais quatro anos de mandato. Com esse resultado, o Partido dos Trabalhadores, completará 16 anos ininterruptos de governo. Durante a campanha, a oposição falou muita besteira e distorceu diversos fatos para tentar, através do voto, chegar a Presidência, fosse com o Eduardo Campos, que foi substituído pela Marina Silva, ou fosse com o senador Aécio Neves.

Tudo era motivo para tentar justificar a mudança, que estes nomes diziam representar. Alegaram que o país caminhava para uma ditadura, uma vez que a democracia pressupõe alternância de poder e o PT, caso vencesse, como venceu chegaria ao seu quarto mandato seguido. Para estes senhores, lembro que a África do Sul, que deu ao mundo a figura imprescindível de Nelson Mandela, que faleceu este ano, nunca foi uma ditadura, mesmo no período de apartheid, contra o qual Mandela foi o maior opositor. 

Lá, o Congresso Nacional Africano (CNA), após eleger Mandela presidente há 20 anos, jamais perdeu uma eleição presidencial e nem por isso o país se tornou uma ditadura e a alternância de poder sempre foi garantida.

Outro exemplo, mais próximo é o Uruguai, onde não há reeleição, mas no final deste mês, os uruguaios devem reconduzir Tabaré Vazquez, da Frente Amplia (FA), para seu segundo mandato. Entre um e outro, haverá o mandato de José Pepe Mujica, também da Frente Amplia (FA), que se encerra ao final deste ano. Nosso pequeno vizinho já não é uma ditadura faz tempos e lá, assim como na África do Sul e também aqui, a democracia é garantida de todas as formas. 

Não bastasse o argumento raso de necessidade de alternância de poder, os opositores se valeram do jogo sujo de distorcer os fatos para tentar que isso lhes favorecessem, mas não aconteceu. Agora insatisfeitos com mais uma derrota eleitoral, o principal partido oposicionista, se mostra oportunista e tenta a última cartada desesperada de pedir à justiça eleitoral, a recontagem dos votos no segundo turno, mesmo sem apresentar dados concretos que justifiquem a iniciativa.

É estranho que exatamente 50 anos depois de os setores mais reacionários da sociedade brasileira, terem solapado a democracia com o golpe civil militar de 1964, que gerou uma ditadura de 21 anos, esse mesmo grupo tente novamente desmontar o Estado Democrático de Direito, com uma iniciativa tão baixa como essa recontagem. Além de demonstrarem claramente que não sabem conviver com a derrota, apontam também para o flerte com o golpismo. 

Em breve, não me surpreenderei caso escute de alguém desse grupo, declarações como a creditada ao ex-ditador Figueiredo (1918-1999), ao ser questionado sobre a candidatura de Leonel Brizola (1922-2004) para a Presidência, nos anos 80, quando teríamos a primeira eleição após a reabertura democrática: "Se o Brizola se candidatar, não ganha, se ganhar, não toma posse, se tomar posse não governa".

Para estes senhores que se dizem democratas é preciso destacar que em uma democracia, a vontade popular é soberana e ela é demonstrada através das urnas, como aconteceu este ano. Assim sendo, não reconhecer o resultado das urnas, só pode ser classificado como uma atitude antidemocrática, para não dizer golpista.

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