sábado, 30 de novembro de 2013

Mais um deserviço à educação

Mais uma vez São Paulo chama a atenção, de forma negativa na área educacional. Está semana, veio a tona o caso de uma professora, afastada de suas funções em uma escola técnica do estado, acusada de utilizar materiais com "viés ideológicos". Em um texto publicado em um blog chamado "Escola Sem Partido" (seja lá o que isso signifique), a professora é acusada de colocar em prática um “plano de ensino” para criar aversão a tudo o que não se identifique com uma visão esquerdista ou progressista da sociedade, da cultura, da economia e da história.
 
 
Na lista que aponta o material em questão, estão artigos publicados em revistas com linhas editoriais diferentes das adotadas pela imprensa hegemônica, textos do historiador Eric Hobsbawn (1917-1912), do sociólogo da USP, Ruy Braga, do economista Fernando Nogueira e pasmem, a música Tanto Mar de Chico Buarque, que foi inspirada na vitoriosa Revolução dos Cravos, que acabou com a ditadura de Salazar em Portugal. 


Não é a primeira vez que esse tipo de loucura reacionária ataca as escolas paulistas. Lembro que em 2012, escrevi aqui mesmo nesse espaço, um texto relatando uma notícia publicada no jornal O Estado de São Paulo, que contava a história de um professor de história, que tinha um currículo de fazer inveja em muitos educadores do nosso país e que fora demitido de um tradicional colégio particular da capital com uma justificativa semelhante a de agora.



O educador, era alvo de críticas de pais de alunos, professores, diretores e outros profissionais da instituição que reclamavam de seus hábitos e gostos excêntricos e perturbadores. Admirado por muitos de seus alunos, que aprenderam com ele uma forma alternativa de pensar e questionar o mundo. Suas aulas eram permeadas de rock,  em estilos variados como The Beatles, Led Zeppelin, Mutantes, Raul Seixas, Rolling Stones,  Slayer, Sodom, Children of Bodom, Metalica e outras  bandas de havy metal.
 
 
Além da parte musical, estimulou os estudantes a ler Jack Kerouac, maior nome do movimento conhecido como beatinik, biografia de Che Guevara, filosofia grega, Ernest Hemingway, George Orwell e outros nomes que passam ao largo de obras como Harry  Potter e Crepúsculo, ou as boas e ficcionais aventuras de Robert Langdon, o mocinho das histórias de Dan Brown. Segundo os críticos do educador, esse comportamento e essa metodologia de ensino não era apropriada para os filhos da alta burguesia  paulistana e assim sendo, os mesmos pediram "a  cabeça" do professor revolucionário.
 
 
É lamentável que iniciativas como essas  sejam taxadas como "partidarização" da educação, até por que alegar isso é demonstrar grande desconhecimento sobre o que se fala. Nesses dois episódios, existem escritores e artistas envolvidos, que não podem ser classificados conforme seus "partidos" ou ideologias. Vejamos o caso do cantor e compositor Chico Buarque, filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), autor do livro Raízes do Brasil, que é leitura fundamental para entender um pouco melhor a formação histórica do nosso país. O artista nunca foi filiado a partido algum, apesar de seu pai ter participado da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores  (PT).
 
 
 
Outro exemplo que podemos citar é o escritor George Orwell (1903-1950), que teve obras críticas e que foram proibidas tanto em países capitalistas como nos países comunistas. Isso aconteceu tanto com A Revolução dos Bichos, fábula que satirizou a União Soviética (URSS), ao relatar a Revolução Russa de 1917 e o desenrolar da mesma e 1984, proibido tanto nas URSS e nos EUA, por ser considerado no primeiro uma forte crítica ao totalitarismo - o que realmente é - e no segundo por ser classificada como apologia ao totalitarismo.
 

Acredito que o mesmo serve para as bandas de havy metal e de rock em geral, afinal não dá pra pensar que The Beatles eram comunistas e nem os Mutantes ou o Raul Seixas, por mais que esse defendesse a Sociedade Alternativa, que nunca teve nada de comunista. Assim sendo fica muito complicado acreditar nesse discurso furado, que é utilizado apenas para esterilizar as mentes da nossa juventude, que precisa de boas referências para aprenderem a pensar, por isso a indicação dos autores citados. 


Mas o que acho mais estranho desse papo todo é que a grita é sempre contra nomes ligados a contra cultura e ou a ideologias progressistas. Nunca vi nenhum educador reclamar que tem professor indicando autores, escritores e artistas conservadores como Hobes, Maquiavel, Erasmo de Roterdã, Nietsche, Diogo Maynard, Reinaldo Azevedo, Lobão, Roger, entre outros. Por que será? Será que o motivo para isso é que esses educadores são das mesmas fileiras que esses "pensadores"? Ou será pelo fato de os educadores do nosso país, em sua maioria, não quer que seus alunos aprendam a pensar? Fica a dúvida.

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