Ainda
em tramitação no Congresso a Proposta de Emenda Constitucional 36 que já foi
aprovada na Comissão de Constituição de Justiça do Senado, cria um grande
paradoxo na política nacional. Caso essa PEC seja aprovada, dos atuais 35
partidos existentes no Brasil seriam obrigados a deixar de existir.
A
proposta defende a adoção da chamada “Cláusula de Barreira”, que os partidos
tenham que atingir pelo menos 2% dos votos válidos em todo o território
nacional e 2% dos votos válidos em pelo menos 14 das Unidades Federativas.
A
princípio, essa proposta parece ser uma boa ideia, mas uma análise mais
aprofundada da mesma e da realidade brasileira, já apresenta uma série de
questões que mostra o qual paradoxal é essa PEC. Para início de debate, acho
estranho que em uma sociedade, seja normal a adoção de uma lei que limite o
direito de criação de grupos democráticos.
Sim,
eu concordo que existem hoje no Brasil, muitos partidos e que isso acaba sendo
ruim para o processo democrático, mas não acho que a melhor saída seja a adoção
de limitações nesse sentido. Acredito que o problema partidário no Brasil, se
dá muito mais pela frouxidão ideológica, que possibilita a existência de
diversos partidos, sem a preocupação com a ideologia, possibilitando que vários
partidos com nomenclaturas parecidas, mas que na prática tem poucas diferenças
e nenhuma semelhança com as ideias que dizem, ou pelo menos deveriam defender.
Mas
outro problema relacionado a essa PEC, está no levantamento recente feito pelo
jornal O Globo, que apontou que caso essa mudança na legislação já estivesse
valendo, o resultado eleitoral deste ano seria completamente diferente do que o
que foi apontado nas urnas.
Os
únicos partidos que conseguiram superar a barreira proposta, seriam os maiores
partidos do Brasil (PSDB, PMDB, PSB, PT, PDT, PP, DEM E PR). E isso aponta um
grande paradoxo, quando percebemos que partidos como o PRB, que elegeu Marcelo
Crivella no Rio de Janeiro; o PHS que elegeu Alexandre Kalil, em Belo
Horizonte; o PMN que elegeu Rafael Greca, em Curitiba e o PCdoB que elegeu
Edvaldo Nogueira, em Aracajú e o REDE que elegeu Cléssio Luíz em Macapá e ainda
tem o Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que teve uma votação gigantesca que o levou ao
segundo turno, onde também foi muito bem votado. Estes partidos deixariam de
existir, uma vez que não superaram a cláusula de barreira.
E a proposta fica ainda mais contraditória quando percebemos que o Partido dos Trabalhadores (PT), que vem sofrendo fortes ataques já há alguns anos e que foi o grande derrotado do último pleito, continuaria existindo, enquanto as novas "forças" partidárias, seriam obrigadas a deixar de existir.
E
como fazer com a vontade popular expressa nas urnas? Isso não feriria a
democracia? Por isso, essa iniciativa é sim um grande paradoxo.
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