Capa da primeira edição pós atentado
Hoje
é um dia importante para a imprensa mundial. Faz uma semana que o jornal
satírico Charlie Hebdo, com longo histórico de publicar charges que questionam
toda forma de extremismo, foi duramente atacado por radicais islâmicos. A ação
terrorista vitimou 12 pessoas, entre jornalistas como Charb, editor do jornal e
Wolinski, famoso chargista, que influenciou toda uma geração. Entre os mortos
estava também o policial francês de origem árabe, Ahmed.
O
atentado do dia 7, levantou um amplo debate em relação a liberdade de expressão
e o humor. Até onde eles podem ir? Existe algum limite para ambos?
Imediatamente após o ataque, a frase "Je suis Charlie" - Eu sou
Charlie -, ganhou o mundo e milhares de pessoas utilizaram a mesma para mostrar
solidariedade aos jornalistas do Charlie Hebdo.
Quase
que paralelamente, surgiu também a frase "Je ne suis Charlie" - Eu
não sou Charlie", o anti slogan do primeiro foi propagado pelos críticos a
postura que sempre caracterizou o jornal. Surgiram diversos argumentos tanto
pró Charlie como contrários ao tablóide. Como num passe de mágica proliferou-se
principalmente pela internet um sem número de especialistas em alguma coisa que
de certa forma tinha relação com o ocorrido.
Muitos
alegavam que o jornal buscou ser alvo do atentado, por desrespeitar a religião
islâmica - não se pode retratar de forma alguma o profeta Mohamed - e por isso,
havia uma certa lógica no ato grotesco que a imprensa tanto divulgou e
comentou. Seguiram a linha que me parece em voga no Brasil, faz alguns anos, de
culpabilizar a vítima pelo ocorrido - sim o Charlie Hebdo é a vítima da
história e não o algoz -.
E
não, o islã também não era nem o alvo do jornal e nem o vilão desse caso. O
alvo das críticas desse jornal satírico é o radicalismo religioso, tão presente
em muitos grupos que professam o islã.
Não
entendo as charges do jornal francês como desrespeito a fé alheia, mas sim como
brincadeiras, que devem ser protegidas pelas liberdades de expressão e
imprensa. Por isso, sim, eu sou Charlie.
Aos
que lembram que os muçulmanos são oprimidos na França e também em vários países
europeus, lembro que ser Charlie, não é ser francês e que estas questões
envolvendo a falta de liberdade religiosa e cultural para os praticantes do
islã, o correto não é afirmar que não se é Charlie, mas sim: "Eu não sou a
França".
Ser Charlie, não nos impede de ser Ahmed, ou Baga ou ainda Maidiguri, duas cidades nigerianas onde aconteceram ataques do Boko Haran - outro grupo extremista que segue o islã -.
Hoje,
14 de janeiro de 2015, exatamente uma semana após essa página infeliz da
história da imprensa, o Charlie Hebdo, ganhou as bancas novamente, após receber
a ajuda do jornal Liberation. É um dia para celebrar, as liberdades de imprensa
e de expressão e homenagear, os mortos em Paris, sete dias atrás. Não sou fã da
linha editorial adotada pelo jornal francês que me parece muito próxima da
linha adotada pelos famosos tablóides sensacionalistas ingleses, como o Daily
Mirror e o The Sun, mas é fundamental que a liberdade seja garantida para todos
e os assassinatos da semana passada foram um duro golpe contra esse ideário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário