É
comum ouvirmos a cada vez que se tornam públicos escândalos e histórias
escabrosas, em países em desenvolvimento, que isso só acontece no “terceiro
mundo*”. Pois bem, alguns relatos tornados públicos esta semana, mas de maneira
bem tímida, mostram que países tidos como exemplos corriqueiros de
desenvolvimento, cidadania e justiça, também tem seus “esqueletos nos armários”
e que os mesmos precisam ser retirados para uma ampla limpeza, dos espaços.
A
jornalista e documentarista Dorrit Harazim (1943), nascida na Croácia, então parte da Iugoslávia (1918-2003) mas que tem nacionalidade brasileira
publicou um texto no Blog do Noblat, falando de um passado não muito recente e
absurdamente desumano, da Suíça, o paraíso dos endinheirados, dos chocolates e
dos queijos. O relato conta a história dos verdingkinder (algo como crianças
arrendadas). O termo é utilizado para se referir a mais de 300 mil crianças
pobres, órfãs, ou ainda consideradas “fardos econômicos”, que eram distribuídas
pelo Estado para famílias de agricultores, como mão de obra barata- praticamente
escravos -.
Essa
prática nefasta teve início em meados do século XIX, e perdurou até 1981. Ainda
hoje, a sociedade suíça, tenta organizar um referendo sobre a reparação
financeira aos sobreviventes dessa prática. Uma petição pedindo o referendo foi
lançada em abril deste ano e já alcançou 100 mil assinaturas. Para que o referendo
seja realizado, falta apenas a aprovação do parlamento. Entretanto, o Sindicato
dos Agricultores (principal categoria beneficiada pela prática) e o Partido Democrata
Liberal (de direita), se opõem a iniciativa e já anunciaram que não irão
colaborar com o Fundo para atender os sobreviventes. Tal fundo teria o valor de
500 milhões de Francos Suíços (R$ 1,3 bilhão).
Causa estranheza, saber que um país tão invejado, quando se trata de questões como
justiça, educação e trabalho, tenha baseado sua formação econômica na prática
escravagista, mesmo depois de tantos anos de a escravidão ter sido “oficialmente”
abolida.
É
urgente que a Suíça acerte as contas com o seu passado e caso tal retificação
não seja feita, é preciso que a Comunidade Internacional, puna através de
sanções comerciais e econômicas este pequeno país, no coração da Europa, nos
mesmos moldes que já fez com tantos outros países pelo mundo.
* Expressão que caiu em desuso desde o fim da Guerra Fria.
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