Nascido
em Cincinnati nos Estados Unidos, em 18 de julho de 1922, físico e filósofo da
ciência Thomas Samuel Kuhn tem uma obra ainda muito atual, mesmo 20 anos depois
de seu falecimento.
Um
estudo realizado recentemente realizado por Elliott Green, professor associado
da London School of Economics, que analisou as obras mais citadas em trabalhos
disponíveis na ferramenta Google Scholar, criada em 2004, que é desde então uma
referência crescente para pesquisas, graças a sua acessibilidade, apontou que a
obra “A Estrutura das Revoluções
Científicas”, é a mais citada no mundo, entre os pesquisadores da área de
Ciências Humanas.
Thomas Kuhn formou-se em física, em 1943 pela
tradicional Universidade de Harvard. Três anos mais tarde foi agraciado com o
título de Mestre e em 1949, concluiu o Doutorado na mesma instituição.
Tornou-se então professor em Harvard, onde
lecionou ciências para alunos da área de Ciências Humanas, com o foco na
história da ciência. Em 1956, passa a dar aulas de história da ciência na
Universidade da Califórnia, em Berkeley. Em 1964, passou a dar aulas de
filosofia e de história da ciência na Universidade de Princeton. Seis anos
depois, passa a dar aulas no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), onde ficou até encerrar sua carreira acadêmica.
O
primeiro livro lançado por Thomas Kuhn foi A Revolução Copérnica, publicado em
1957. Em 1962, é lançado o livro A Estrutura das Revoluções Científicas, que o
tornou conhecido como historiador e filósofo da ciência.
Estrutura
das Revoluções Científicas foi um livro voltado para um público filosófico,
ainda que não seja um livro de filosofia, pois como o próprio Kuhn afirmava,
criticava o positivismo sem conhecê-lo em profundidade, mas não se sentia
influenciado pelo pragmatismo de nomes como William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952).
Para
responder as acusações de irracionalismo que passou a sofrer depois da
publicação do livro, em 1974, Kuhn escreve o ensaio Reconsiderando os
Paradigmas e em seguida, desenvolve Teoria do Corpo Negro e Descontinuidade Quântica
– 1894-1912, que ele publica em 1979.
O debate
sobre a obra de Thomas Kuhn gira em torno da noção de paradigma científico e da
"incomensurabilidade" entre os paradigmas. Ken Wilber
defende (em seu livro A União da Alma e dos Sentidos) que a ideia de
paradigmas proposta por Kuhn tem sido apropriada e abusada por grupos e
indivíduos que tentam fazê-la parecer uma declaração de que a ciência é
arbitrária. Entretanto, a obra de Kuhn abriu espaço para toda uma nova
abordagem de estudos chamados Social Studies of Science (estudos sociais
da ciência) que desembocou no Programa Forte da Sociologia.
Especula-se
que Kuhn tenha se apropriado de muitas das ideias de Ludwick Fleck (1896-1961) - como paradigma, revolução paradigmática. ciência normal, anomalias, etc -, médico polonês que pouco escreveu sobre
história da ciência e que permaneceu e permanece desconhecido de muitos.
O pensamento de Kuhn
Thomas S. Kuhn ocupou-se principalmente do
estudo da história da ciência, no qual mostra um contraste entre duas
concepções da ciência:
- Por um lado, a ciência é entendida como uma atividade completamente
racional e controlada. (Perspectiva
Formalista).
- Em outro lado, a ciência é entendida como uma atividade concreta
que se dá ao longo do tempo e que em cada época histórica apresenta
peculiaridades e características próprias. (Perspectiva Historicista).
Este
contraste emerge na obra A Estrutura
das Revoluções Científicas, e ocasionou o chamado giro histórico-sociológico da ciência,
uma revolução na reflexão acerca da ciência ao considerar próprios da ciência os aspectos históricos e
sociológicos que rodeiam a atividade científica, e não só os lógicos e
empíricos, como defendia o modelo formalista, o qual estava a ser desafiado
pelo enfoque historicista de Kuhn.
Enfoque historicista
Segundo o
enfoque historicista de Kuhn, a ciência
desenvolve-se segundo determinadas fases:
1.
Estabelecimento
de um paradigma
2. Ciência normal
3. Crise
4.
Ciência
Extraordinária
5. Revolução científica
6.
Estabelecimento
de um novo paradigma.
1.
A noção de paradigma
resulta fundamental neste enfoque historicista e não é mais que uma
macroteoria, um marco ou perspectiva que se aceita de forma geral por toda a
comunidade científica (conjunto de cientistas que compartilham um mesmo
paradigma e realizam a mesma atividade científica) e a partir do qual se
realiza a atividade científica, cujo objetivo é esclarecer as possíveis falhas
do paradigma ou extrair todas as suas consequências. Em Estrutura das revoluções Científicas,
o termo paradigma causou confusão a uma série de estudiosos. Kuhn esclareceria posteriormente que o
termo pode ser utilizado num sentido geral e num sentido restrito. O primeiro
diz respeito à noção de matriz disciplinar, que é o "conjunto de
compromissos de pesquisa de uma comunidade científica". O segundo sentido
denota os paradigmas exemplares, que são a base da formação científica, uma vez
que o pesquisador passa a dominar o conteúdo cognitivo da ciência através da
experimentação dos exemplos compartilhados.
2.
A ciência normal é o período durante o qual se desenvolve uma atividade
científica baseada num paradigma. Esta fase ocupa a maior parte da comunidade
científica, consistindo em trabalhar para mostrar ou pôr a prova a solidez do
paradigma no qual se baseia. Thomas Kuhn estabelece três classificações
possíveis para a constituição da ciência normal: determinação do fato
significativo (construções teóricas e práticas a respeito de leis da natureza),
harmonização dos fatos com a teoria e articulação da teoria (resolução de
ambiguidades e problemas).
3.
Porém, em
determinadas ocasiões, o paradigma não é capaz de resolver todos os problemas, que
podem persistir ao longo de anos ou séculos inclusive, e neste caso o paradigma
gradualmente é posto em cheque, e começa-se a considerar se é o marco mais
adequado para a resolução de problemas ou se deve ser abandonado. Então é
quando se estabelece uma crise.
O objeto de estudo predominante neste período são denominados de anomalias.
4.
Ciência
extraordinária, é o tempo em que se criam novos paradigmas que competem entre
si tentando impor-se como o enfoque mais adequado.
5.
Produz uma revolução científica quando um dos
novos paradigmas substitui o paradigma tradicional. A cada revolução o ciclo
inicia de novo e o paradigma que foi instaurado dá origem a um novo processo de
ciência normal. Kuhn afirma que "decidir rejeitar um paradigma é sempre
decidir simultaneamente aceitar outro".
Desta
maneira, o enfoque historicista dá importância a fatores subjetivos que
anteriormente foram passados por alto na hora de explicar o processo de
investigação científica. Kuhn mostra
que a ciência não é só um contraste entre teorias e realidade, senão que há
diálogo, debate, tensões e até lutas entre os defensores de distintos
paradigmas. E é precisamente nesse debate ou luta onde se demonstra que os cientistas não são só absolutamente
racionais, não podem ser objetivos, pois nem a eles é possível
afastar-se de todos os paradigmas e compará-los de forma objetiva, senão que
sempre estão imersos em um paradigma e interpretam o mundo conforme o mesmo.
Isto demonstra que na atividade
científica influi tanto interesses científicos (ex: a aplicação prática
de uma teoria),
como subjetivos, como por
exemplo, a existência de coletividades ou grupos sociais a favor ou contra uma
teoria concreta, ou a existência de problemas éticos, de tal maneira que a
atividade científica vê-se influenciada pelo contexto histórico-sociológico em
que se desenvolve. Também é verdade que, epistemologicamente falando, Thomas
Kuhn se guia por um paradigma para estudar a formação dos paradigmas!
Para Kuhn a
ciência é subjetiva evolui de modo a aproximar-se da verdade. Esta aproximação
é feita pela substituição de teorias, paradigmas que são segundo Karl Popper (1902-1994)
objetivamente melhores que a teoria ou paradigma anteriores, sendo assim a
ciência segundo Popper objetiva.
Mas Kuhn critica este ponto de vista e afirma
que dois paradigmas são incomensuráveis, e também para um paradigma ser melhor
que outro tinha de ser objetivamente melhor que o anterior mas isso não
acontece pois os fatores que levam a escolher um paradigma e desfavorecimento
do anterior são fatores subjetivos. Sendo assim a ciência não objetiva pois
as escolhas que levam a evolução da ciência são meramente subjetivas.
Thomas Samuel Kuhn morreu em Cambridge no estado de Massachusetts 17 de Junho de 1996, de cancro.