Já faz
alguns anos que o jornalismo sofreu o maior abalo que a profissão poderia
receber. Sua desregulamentação, baseada mais em interesses sócio econômicos,
principalmente vindo da parte de entidades como as patronais ABERT (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de
Jornais), entre outras ligadas a área serviu apenas para piorar a qualidade do
serviço prestado pelos jornalistas.
Os
argumentos para fundamentar essa decisão são fracos e distorcidos. Alegam que o
diploma fere a liberdade de expressão, o que é uma inverdade, uma vez que a
internet e as redes sociais estão ai justamente para proporcionar às pessoas
que expressem suas opiniões sobre qualquer tema. Mas infelizmente, ao que
parece, essa é uma guerra perdida pela categoria.
Com a
mudança da legislação juntamente com as redes sociais e a internet, vemos já
faz algum tempo, a proliferação de boatos, mentiras e factóides, que são
amplamente divulgados como se fosse verdade. Vai ver essas pessoas ainda deem
razão para Joseph Goebbls (1897-1945), Ministro da
Propaganda Nazista que alardeava que "uma mentira contada mil vezes, acaba
virando verdade".
Esta
semana, vi acontecer algo desse tipo. Circulou nas redes sociais uma informação
de que um trabalhador do setor off-shore, havia sido desembarcado e estava
internado no setor de infectologia de um hospital, com suspeita de Ebola. Isso
mesmo, a doença que mais preocupa o mundo, na atualidade finalmente havia
chegado a cidade.
A
história se espalhou de maneira rápida e gerou muitos comentários nas redes
sociais, até por que a notícia dava conta de que a cidade não está preparada
para lhe dar com uma situação assim o que obviamente, deixou a população
preocupada. Pouco tempo depois foi divulgado pela imprensa profissional
que a história não passava de boato, inclusive com declaração de um diretor do
hospital citado.
Alguns
pontos da história, já apontavam para a hipótese de não ser real. Quem divulgou
a informação, esqueceu de afirmar qual médico teria lhe passado essa
informação, o que é aceitável, uma vez que o “jornalista” tem a prerrogativa de
não ser obrigado a entregar suas “fontes”, mas também esqueceram informações
importantes como: para qual empresa esse cidadão trabalhava? Quem era ele? Como
teria sido infectado? Além de outras barrigas como informar que o cidadão,
inicialmente estaria em uma plataforma e depois se confirmar que o caso do
internado, que era na verdade amidalite, informar que o fato ocorrera em um
navio que passou pelo sul da África.
Para quem
não sabe ou não se lembra, o sul da África não registrou nenhum caso de Ebola,
a doença esta concentrada na região noroeste do continente, distante muitos
quilômetros do sul.
Essas “arestas”
mostram que o jornalismo precisa ser levado mais à sério por quem quer
trabalhar com ele. Um dos maiores escritores da literatura brasileira, JoãoCabral de Melo Neto (1920-1999), certa vez nos alertou: “quem trabalha com
palavras, trabalha essencialmente com a verdade”, e olha que o autor da mesma,
ainda que tenha trabalhado com o jornalismo assim como muitos de seus pares de
literatura, atuou de maneira muito mais forte em uma área onde nem sempre as
palavras combinam com a verdade, até por que a literatura tem essa liberdade,
ao contrário do jornalismo.
E é exatamente para evitar casos danosos para a sociedade como este citado nesse espaço, e que é tão comum de vermos acontecer, que o jornalismo profissional é fundamental para a sociedade e desta forma deve cobrar sim uma formação específica para o exercício da profissão.
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