terça-feira, 25 de agosto de 2015

Síndrome de Minority Report

 Tá chato, tá triste e está feio. Pelo visto uma prática absurda vem sendo cada vez mais corriqueira no Estado do Rio de Janeiro. Há pouco mais de um ano, durante manifestações de movimentos sociais opositores ao governo do estado do Rio de Janeiro, foram alvos de uma ação judicial e também policial, que resultou na prisão de vários manifestantes.

O problema da decisão, judicial que garantiu a ação da polícia é que ela aconteceu de maneira “preventiva”, sem que os detentos tivessem cometido algum crime e para evitar que tais crimes ocorressem, os manifestantes foram detidos previamente. A ação foi rápida e amplamente relacionada ao livro de ficção científica Minority Report, do escritor estadunidense Philip K. Dick (1928-1982) e que virou filme em 2002, estrelado por Tom Cruise e dirigido por Spielberg. Este blog mesmo publicou texto sobre o fato.

Na história, um chefe de uma divisão especial da polícia que atua na prevenção de “crimes de homicídios”, prendendo os “criminosos”, antes de os fatos ocorrerem. Agora, nesta semana, a polícia fluminense mostrou que os “Precogs” continuam vivos e ativos na corporação.

Mesmo sendo uma afronta ao Estado Democrático de Direito, essa história voltou a acontecer no Rio de Janeiro. No último dia 23, a Polícia Militar abordou um ônibus onde 15 jovens estavam a caminho das praias da zona sul e os deteve. O grupo foi encaminhado para o Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Ciaca).

A justificativa para a ação era que os menores poderiam cometer crimes na orla carioca e para evitar que isso acontecesse, a polícia os recolheu. Nada mais parecido com o personagem Precog, da obra supracitada.

É lamentável que as forças de segurança do estado ainda atuem de maneira tão reacionária, preconceituosa e criminosa. Dos 15 jovens, detidos apenas um era branco, os demais, todos negros. Isso sem mencionar o fato de que todos são moradores de áreas carentes da zona norte e da baixada.

Neste caso, fica gritante a ideia de delimitar espaços públicos segregando a população e ainda atropelam a legislação, apenas para manter seus interesses próprios e o status quo. Como escrevi no texto publicado ano passado, “Quem extrapolar os direitos garantidos pela legislação brasileira deve sim ser responsabilizado, mas somente após a consolidação dos fatos. Caso contrário, estaremos consolidando o passado vislumbrado por Philip K. Dick, em Minority Report e quem já leu o livro e ou viu o filme sabe que o final da história não é algo bom”.

Espero que a força policial se desculpe perante a sociedade, liberte os garotos e não repita mais casos estapafúrdios como esse.


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